País das erratas

Por Sílvio Ribas O governo se comprometeu a cumprir este ano uma economia para pagar juros da dívida pública, o chamado superavit primário, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Contra quem ousasse duvidar, o ministro da Fazenda Guido Mantega reafirmava a meta e ainda ridicularizava os "nervosinhos". Perto de iniciar o último trimestre de 2014, ele já está sendo obrigado a confirmar seus erros de projeções, expostos pelo mercado financeiro há tempos e admitidos pela sua equipe nos bastidores. Em seu relatório bimestral de receitas e despesas, divulgado ontem, os ministérios do Planejamento e o da Fazenda reduziram pela metade a estimativa de crescimento da economia, de 1,8% para 0,9%, ainda considerada otimista. A previsão para a inflação deste ano ficou mantida em 6,2%, mas a da receita líquida foi reduzida em R$ 10,5 bilhões, para R$ 1,084 trilhão. Nessa toada, as agências de classificação de risco deverão confirmar a perspectiva de rebaixamento da nota brasileira de crédito, refletindo a incerteza geral plantada pelo próprio governo e o persistente baixo crescimento. Boa parte do desempenho ruim da economia vem justamente do insistente descolamento da realidade, levando agentes econômicos a desacreditar dos enunciados oficiais, que defendem como verdade absoluta números insustentáveis. A própria expectativa de preços mais elevados no futuro, incluindo uma correção das tabelas controladas pelo governo, está impulsionando a inflação. Segundo o banco Brasil Plural, esse empurrão deve contribuir com 0,75 ponto percentual ao IPCA deste ano, índice que baliza a meta inflacionária. Pior do que o governo dourar alvos e projeções para vender um cenário melhor do que é a realidade, é tentar obstruir o trabalho de quem apura os números reais. Um dos casos mais simbólicos dessa aversão às análises contrárias ao Planalto pode ter ocorrido na última sexta-feira, a poucos dias das eleições presidenciais, com uma suposta correção de números da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que foi divulgado como aumento da desigualdade social no país um dia foi retificado na manhã seguinte como queda do indigesto indicador. Para a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, houve um "erro banal", que pode levar à demissão da presidente do IBGE, Wasmália Bivar. Ela negou ter havido pressão para "corrigir" os dados úteis à artilharia da oposição e que a tal falha tenha decorrido do sucateamento do órgão. De toda forma, seguiu-se um ritual padrão nesses casos de não afirmar imediatamente a causa dos erros, mas de instalar comissões de sindicância para nomear eventuais responsáveis. Até agora, o IBGE resignou-se a informar que foi usada uma projeção de população incorreta em sete estados que têm mais de uma região metropolitana. Em razão disso, números da renda dos brasileiros e da concentração de sua renda estariam equivocados. O fato é que, mesmo se o tradicional órgão foi desmoralizado pelo cochilo de um técnico, o histórico de assombrações de outras "almas Pnad" ao longo das administrações petistas sugere perda generalizada de rigor nas pesquisas públicas ou, pior, uma série de intervenções revisionistas. Aéreas versus Correios As quatro maiores companhias nacionais do setor aéreo ficaram curiosas com a notícia de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) planeja comprar aeronaves e ingressar no ramo da aviação de carga. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, ainda faltam elementos para avaliar o peso desse movimento e as razões por trás dele. De toda forma, ele teme que a estatal possa se utilizar de condições privilegiadas para competir nesse mercado, com vantagens fiscais e logísticas. Fonte: coluna Correio Econômico de hoje

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