Campanha inglória

Por Sílvio Ribas A presidente Dilma Rousseff inaugurou oficialmente a sua corrida à reeleição prometendo fazer uma campanha de alto nível, procurando debater ideias e apresentar propostas. Isso apesar de funcionários do governo e gente contratada pelos comitês eleitorais do PT há meses estarem disseminando nas redes sociais mensagens desabonadoras contra os principais rivais dela. A oposição se propôs a seguir a mesma trilha de confronto civilizado de projetos oferecidos ao escrutínio popular, em um momento particularmente tenso na história nacional. Agora, a menos de um mês do primeiro turno de votações, vemos a baixaria do horário político no rádio e na tevê enterrando os últimos resquícios de sobriedade e de respeito pela inteligência da população. O que antes era subterrâneo, concentrado na boataria on-line, agora está nos textos lidos pelos apresentadores das propagandas levadas ao ar e até mesmo na boca dos presidenciáveis, seja nas ruas ou na janela eletrônica dos lares. Como a própria presidente deixou escapar meses atrás, o Planalto não se furtou de “fazer o diabo para ganhar a eleição”.
Com a inesperada reviravolta nas intenções de voto, gerada pela entrada em cena do fenômeno Marina Silva (PSB), a campanha de Dilma assumiu a maior parte da tarefa suja de descontruir a imagem da ultracompetitiva adversária. No começo, tentou-se explorar as interrogações que pairam sobre a ex-senadora e as suas mudanças de posição nos últimos anos. Depois, a tática dos marqueteiros da coligação governista cruzou a linha do bom senso para associar a candidata substituta de Eduardo Campos aos polêmicos ex-presidentes Fernando Collor e Jânio Quadros, eleitos com bandeiras moralizadoras mas que renunciaram depois aos mandatos. Desses ataques saíram golpes que merecem o estudo de mestres da ciência política e da psicologia. Exemplo maior das ilações feitas foi relacionar a proposta de Marina para tornar o Banco Central institucionalmente independente a um suposto conluio dela com banqueiros. Omitiu-se que a autoridade monetária foi exercida por um ex-banqueiro de carreira internacional, Henrique Meirelles, ao longo da Era Lula (2003-2010), com toda a independência operacional. Há muito telhado de vidro nessa gritaria. A desfaçatez expôs contradições de autoridades e de líderes partidários em nível ainda mais acentuado que as muitas verificadas ao longo de quase 12 anos de governos petistas. Para especialistas, trata-se só do medo de perder a cadeira presidencial.
Fonte: Correio Braziliense de hoje

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