Brasil em chamas

Por Sílvio Ribas Os problemas do Brasil continuarão evoluindo em escala geométrica enquanto forem discutidos por bestas quadradas em mesas-redondas. O velho ditado serve como uma luva para avaliar como o país enfrenta hoje o maior cataclisma ambiental de sua história, marcado por gigantescos incêndios florestais e o angustiante desaparecimento de cursos e depósitos hídricos. Classificado pelas autoridades dos três níveis de governo como fatos episódicos e plenamente contornáveis, os danos causados pela estiagem e pelos erros de gestão dos mananciais deveriam estar no centro da campanha presidencial. Neste Fla-Flu eleitoral que colocou duas mulheres na disputa radicalizada para governar o Brasil pelos próximos quatro anos, as mazelas da economia e da corrupção envolvendo empresas públicas tomaram conta da pauta dos debates. Isso apesar de a primavera ter chegado acompanhada de péssimas notícias para o meio ambiente, como a de que a nascente do Rio São Francisco, em Minas Gerais, secou pela primeira vez desde a descoberta da Ilha de Vera Cruz. A derrubada de árvores avança sem dó na Amazônia, e o Planalto ainda alega questões burocráticas para não aderir ao pacto global de desmatamento zero até 2030. A tragédia anunciada sobre o verde representado na Bandeira Nacional avança de mãos dadas com a poluição e a escassez de água em centenas de cidades brasileiras, São Paulo à frente. Os governantes continuam brincando com essa crise e inalando a fumaça das queimadas como se fosse suave e passageira brisa. Não por acaso, a torcida da população de Brasília e de outras metrópoles pela chegada da chuva acabou se tornando uma prece coletiva para que os céus reguem as mentes vazias de quem manda neste ineficiente Estado latino-americano. Não faltam soluções experimentadas, recursos financeiros e tecnologias especializadas para enfrentar o drama ecológico, inexplicavelmente ignorado pela maioria dos candidatos e eleitores. O que carecemos mesmo é de ações firmes para barrar o crime florestal, combater o desperdício nas redes de saneamento básico e investir na restauração da cobertura vegetal. Soa ridículo o palavrório bonito de políticos sobre a importância do desenvolvimento sustentável enquanto um embrionário deserto aflora em todo canto. Será preciso ter retirantes da seca no Sudeste e o apocalipse hidrelétrico para algo ser feito? Os trabalhinhos sobre preservação da natureza de alunos do ensino fundamental deveriam pautar presidentes. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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