Economia perdeu a governança

A piora da perspectiva de crédito do Brasil, divulgada na terça-feira pela Moody’s, cristalizou a impressão de que a política econômica do governo se confinou no próprio buraco que cavou. A recessão na indústria, o investimento produtivo engavetado e a grave desconfiança do mercado após o forte intervencionismo estatal e o persistente malabarismo fiscal deram argumentos de sobra para a agência norte-americana de classificação de risco ameaçar a nota brasileira de rebaixamento mais adiante. Para o governo, a notícia não poderia vir em pior hora, a menos de um mês do primeiro turno da eleição na qual Dilma Rousseff disputa um segundo mandato presidencial. O sinal externo ruim para a solvência do país não se traduz só na aposta de persistência do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos, em razão de problemas estruturais. Ele sugere também algo mais grave: uma crescente cautela do capital internacional em relação a se investir em títulos de dívidas de governo e de empresas brasileiras, o que pode conter o ingresso de dólares, acentuando as perdas da já debilitada conta externa do país. Mas o que se revela curioso nesse quadro inquietante é que o próprio Palácio do Planalto já vinha agravando suas próprias limitações, evidenciadas pelo pessimismo geral de empresários, analistas e consumidores. Pressionada pelo calendário eleitoral, Dilma perdeu neste último ano de sua gestão o espaço de manobra que teria para adotar medidas corretivas e abrir espaços para o investimento privado, sobretudo em infraestrutura. Sem recorrer a medidas fiscais para controlar a inflação, que se acostumou em se aproximar do teto de 6,5% anuais da meta oficial de 4,5%, a chefe do Executivo sucumbiu ao dilema imposto pela recessão técnica, aflorada no segundo trimestre, mantendo juros anuais básicos de 11%, pois reduzir a taxa alimentaria a inflação. Outro impasse: desvalorizar o real melhoraria os números da balança comercial, mas alimentaria o dragão da carestia. Restou apelar ao estímulo do consumo, sustentáculo da expansão do PIB nos últimos anos e que se ressente com o endividamento das famílias e com outros indicadores ruins da economia. Esse esforço derradeiro se contradiz com as promessas de austeridade e de controle inflacionário, além de render resultados pífios. Por fim, o governo deu tiros extras no pé ao insistir em encontrar formas de maquiar as contas públicas, as tais “pedaladas” fiscais coordenadas pelo Tesouro e facilmente descobertas pelos agentes econômicos. Ao reiterar a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, quase quatro meses antes da atual gestão, a presidente tentou conter o desânimo do mercado. Mas só conseguiu enfraquecer ainda mais a governança da economia, constrangendo quem mais tempo liderou a equipe econômica. Sobre as dificuldades da economia, as justificativas alegadas, como estiagem prolongada e mudanças no calendário durante a Copa do Mundo, de nada serviram para mudar o mau humor em relação ao cenário. Com isso, os três principais aspirantes à Presidência assumiram postura de fiadores de um tempo de transições na economia. Dilma promete equipe e alvos renovados num eventual segundo mandato, Aécio Neves (PSDB) se apresenta como o fiador da mudança segura, em favor da retomada da estabilidade monetária, da credibilidade do mercado e do crescimento sustentável e Marina Silva (PSB) se coloca como a portadora dos anseios gerais de virada. O elo comum a todos é a percepção de que o eleitorado nacional, sobretudo o público mais escolarizado, deu sinais inequívocos de esgotamento com a atual governança econômica e clama por novos rumos. Fonte: editorial do Correio Braziliense de 13 de setembro
Do Itaú: The latest polls on Brazil’s presidential race show Marina Silva (PSB) and president Dilma Rousseff (PT) technically tied in a hypothetical runoff between the two candidates, indicating that this could be one of the closest elections in Brazil’s recent history. Marina Silva enjoyed a strong rise in support in the polls after formally replacing Eduardo Campos, but has recently lost some ground with Dilma Rousseff taking advantage of more TV and radio time and a larger campaign structure.

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