Bons companheiros

Três dos oito principais candidatos à Presidência da República já tiveram Luiz Inácio Lula da Silva como o seu principal mentor partidário e o seu maior inspirador na carreira política. Hoje críticos dele e da candidata petista à reeleição Dilma Rousseff, Marina Silva (PSB), Luciana Genro (PSol) e Eduardo Jorge (PV) romperam com o PT em momentos diferentes. Todos, contudo, buscaram novas agremiações por considerar que o presidente eleito em 2002 e reeleito em 2006 se tornou um mito popular divorciado do apreço pelos rigores éticos que manifestava o então líder sindicalista emergido das históricas greves do ABC paulista. A chegada ao poder mudou – ou apenas revelou – um homem cujas vaidades pessoais se sobrepuseram à trajetória da legenda que ele fundou, ajudou a estruturar e, por fim, conduziu à primeira vitória consagradora nas urnas, após três tentativas frustradas. O lulismo suplantou o petismo, abraçando pragmaticamente antigos rivais, negando princípios e fechando os olhos para os malfeitos instalados no seio da República e que antes tanto condenava. Dessa virada irrompeu uma série de episódios de rancores, traições e rupturas. Companheiros íntimos e de longa data tomaram outros rumos e passaram logo a ser alvo de rótulos gratuitos, como “direitista”, “traíra”, “privatista”, “entreguista” e “aloprado”. Não faltaram ainda perseguições e, dizem alguns, até ameaças à integridade física dos ex-amigos. Na mão inversa, passaram a ser merecedores de afagos vários políticos que, num passado não tão distante, eram execrados pelos palanques encabeçados pelo PT, como José Sarney, Jáder Barbalho, Renan Calheiros e Fernando Collor. Lula angariou adesistas de um lado e dissidentes de outro, que seguiram coerentes com as tais lutas “petistas”, como a ex-senadora Heloísa Helena (Psol) e o senador Cristovam Buarque (PDT). “Em épocas de desespero o PT não poupa nem os amigos, como fez agora com o Collor, aliado de primeira hora de Lula e Dilma”, discursou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), ao comentar a associação, na propaganda eleitoral, entre a candidata do PSB e o ex-presidente afastado durante o mandato. Antes, o ex-líder petista na Câmara André Vargas foi rifado para não "contaminar" o partido. O sacrifício de seguidores fiéis em favor de apoiadores de ocasião parece ter desencantado ainda mais parcelas do eleitorado. Pesquisas de intenção de voto mostram que o cinismo engordou o ceticismo e despertou o desejo de mudança. Fonte: artigo publicado ontem no Correio Braziliense

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