Pecados cambiais

Sílvio Ribas A guerra cambial que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tanto acusou as grandes nações industrializadas de fazer, com o cuidado de excluir a China da lista, não mobilizou a comunidade internacional como gostaria. Nos últimos meses, contudo, o câmbio passou a ser tema mais sensível para estratégias locais de desenvolvimento, sobretudo as dedicadas a parques fabris decadentes. O melhor exemplo é o do Japão. Munido de nacionalismo contra os vizinhos chineses e de ousadia para encerrar duas décadas de estagnação econômica, o primeiro-ministro Shinzo Abe pratica política monetária agressiva e tenta impulsionar exportações com inovação e moeda competitiva. No Brasil, a lógica até seria a mesma se não fosse o fato de a inflação estar diretamente sujeita a uma desvalorização da moeda, com custos domésticos muito dolarizados e sem vantagens relativas extras para compensar um outro patamar cambial. Assim, a recente disparada do dólar fez o governo mudar o foco, voltado naturalmente para o combate a mudanças que possam desorganizar mais a economia. Entre tantos dilemas enfrentados pelo país, a balança comercial deverá se tornar até dezembro o maior deles. Não só porque registrou nos cinco primeiros meses do ano o pior resultado da história, um deficit de US$ 5,4 bilhões. O número refletiu atrasos na contabilização das compras externas de combustíveis pela Petrobras, mas também o avanço de manufaturas importadas. Para evitar desindustrialização mais dramática, há quem já defenda, como o economista Edmar Bacha, uma desvalorização deliberada do real, acompanhada de maior abertura em favor da competição externa. O assunto é polêmico. Também há dentro do empresariado quem peça por uma revisão do Mercosul, bloco que acorrenta as negociações comerciais do país a parceiros pouco confiáveis, como Argentina e Venezuela. Os números do novo bloco regional, a Aliança do Pacífico, formado por Chile, Colômbia, Peru e México, já nasceram mais auspiciosos que o gigante do Cone Sul. A área de livre-comércio cujo projeto foi anunciado ano passado e que estreia oficialmente em 30 de junho, quando 90% dos produtos vendidos entre os parceiros terão tarifa zero, deixou claro que precisamos nos preparar. Fonte: Correio Braziliense de hoje

Comentários