PAC, pacotes e pactos

Sílvio Ribas
Nunca antes na história deste país a falta de diálogo entre líderes dos três Poderes, em períodos democráticos, causou tanto estrago como agora. Sem valorizar elementos básicos do jogo político, a presidente Dilma Rousseff acabou sendo premiada pela histórica crise atual, a um ano e meio antes do fim do mandato. Tanto na economia quanto no plano institucional, faltou à chefe do Executivo disposição em ouvir. Se o presidencialismo requer capacidade de o governante decidir, igualmente importante é ele conversar com todos os interlocutores possíveis para balizar decisões. A cadeira presidencial pede altivez, mas não necessariamente o tom hermético dos PACs, dos pacotes de estímulos econômicos pontuais e dos recém-propostos pactos, que remetem aos dias de aflição do governo José Sarney. As consequências nefastas da ausência de canais de conversação de Dilma atingiram o auge há 15 dias, com a piora geral dos indicadores econômicos e a onda de manifestações a varrer o país. Ambas as situações poderiam ter sido evitadas com mais transparência nos gastos públicos e mais consideração pela sociedade. Mas o que se viu foi a comunicação oficial tombando diante dos fatos e sendo atropelada pela nova forma de expressão das ruas, de abundante interatividade digital. O caos aparente é o transbordar de verdades inconvenientes, como a inflação que faz o quilo de farinha custar R$ 14 e o pragmatismo eleitoreiro que empossa o mesmo 39º ministro após ele responder provisoriamente pelo Palácio Bandeirantes, cujo titular é da oposição. Apesar de toda insurreição, o Planalto não aprendeu a lição, e conselheiros habilidosos continuam do lado de fora do gabinete da presidente. O isolamento impediu Dilma de perguntar ao constitucionalista mais próximo, o vice Michel Temer, se a ideia de constituinte de propósito específico, colhida de um cartaz nas manifestações, era legal nos dois sentidos. Outra falha do pacote do vinagre é a solução bolivariana de importar médicos para sanar a má distribuição geográfica de profissionais de saúde. Se a reserva de mercado pode ser questionada, a qualidade do atendimento à população pobre nunca deveria deixar de ser regra pétrea. Em vez de pacote, a parceria entre classe médica e Estado poderia ter levado à efetiva solução de um drama social. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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