4G: quatro gargalos

O reconhecimento das próprias operadoras de que não haverá sinal garantido para os serviços de telefonia celular e internet móvel nos seis estádios que vão receber os jogos da Copa das Confederações não afasta a perspectiva de vexames ainda maiores. Além de presenciar o constrangimento de milhares de turistas sendo impedidos de falar e enviar fotos, a forma mais moderna de banda larga, a quarta geração (4G), que estreou oficialmente há um mês no país, não passará no seu primeiro grande teste. Sem atingir plenamente as promessas de cobertura e de velocidade, além de sair cara e sujeita a trombadas com outras frequências, a 4G tirou recursos antes reservados à melhoria da já saturada terceira geração (3G). Esses fatos evidenciaram escolhas equivocadas do governo em torno da tecnologia também conhecida por LTE e, sobretudo, em relação ao plano de investimentos de telecomunicações. O Sinditelebrasil, entidade que representa as empresas dos setor, alega que os investimentos em infraestrutura nos estádios não cumpriram o prazo contratado com o governo devido a indefinições técnicas dos administradores das arenas. A cobertura parcial dos locais a partir dessa semana consumirá R$ 110 milhões. Dos estádios, o Mané Garrincha é onde as obras estão mais avançadas, com 85% dos equipamentos instalados. Depois vem o Castelão, em Fortaleza, com 77% concluído até agora. Na lanterna, está Recife, com 57%. Assim como as obras de mobilidade urbana e de infraestrutura turística, as serviços de telecomunicações não alcançarão o nível desejado durante Copa das Confederações, que começa no sábado. Especialistas apontam falhas nas redes 4G das cidades, na internet via cabo e até nos sinais de transmissão dos jogos em alta definição (HDTV) durante o chamado “evento teste” para a Copa de 2014. O Ministério das Comunicações assegurou que as obras para atualizar infraestrutura de telecomunicações e dar suporte às partidas foram realizadas “dentro do prazo previsto” e que a fiscalização vai atingir todo o país até dezembro. Para especialistas, haverá, sim, problemas que, sob os holofotes dos grandes eventos esportivos, terão repercussão mundial. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), dos 264 milhões de celulares ativos no país, 64 milhões são 3G e só 48 mil da nova tecnologia. “Nosso 4G tem restrições técnicas para operar em ambientes fechados, está concentrado em poucos aparelhos que a maioria dos usuários não conseguem comprar e já afeta a manutenção do 3G”, reclama Dane Avanzi, advogado especializado em direitos do consumidor de telecomunicações. “O apagão da telefonia móvel já ocorre diariamente e se repetirá nas copas. Basta chover para a internet cair em algumas áreas da capital paulista, só voltando duas horas depois, com sorte”, alerta Ivair Rodrigues, da consultoria IT Data. Ele duvida que a estrutura voltada à banda larga ultra rápida fique pronta para os eventos. “As operadoras ainda não tiveram todo o retorno financeiro do 3G e só vão investir pesado na tecnologia seguinte quando isso ocorrer”, aposta. Sandro Cunha, da FTI Consulting, sublinha a falta de planejamento como principal razão da falta de infraestrutura para atender a demanda atual em diferentes áreas. “Se a execução dos planos tivesse ocorrido adequadamente, seria possível evitar a visível correria dos últimos meses que antecedem a Copa do Mundo”, ilustra. Menos pessimista, Victor Trevisan, advogado especializado em infraestrutura, não teme pelo apagão, mas pelo vexame dos gargalos. “Nas capitais dos jogos, a infraestrutura é precária, falta antenas até mesmo para o 3G e o sinal oscila”, descreve. O avanço da nova tecnologia revelou escolhas erradas quanto a frequência ainda ocupada pela TV analógica, de 700 megahertz (MHz). O governo só conseguiu licitar a faixa de 2,5 gigahertz (GHz), reconhecidamente difícil de implantar e de alcance limitado. Prova disso é que o próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, reconheceu esta semana que terá de antecipar para 2015 o desligamento do sinal analógico de televisão nas grandes cidades, para dar espaço ao 4G, que prometia chegar aqui a 10 Mbps, menos da metade da campeã Suécia (22,1 Mbps). Limites Diante desse quadro complicado, operadoras e autoridades tentam relativizar os problemas causados pela escassez de infraestrutura e eventuais erros de planejamento. “A tecnologia LTE foi desenvolvida especialmente para a transmissão de dados e não voz. Nesse sentido, a cobertura 4G se sobrepõe à 2G e 3G”, ressalva Eduardo Levy, diretor executivo do SindiTelebrasil, que representa as concessionárias Oi, Vivo, Claro e TIM. Ele garante que os clientes estão satisfeitos e todas operadoras estão cumprindo os contratos à risca, garantindo o serviço em metade da área urbana das cidades sedes da Copa das Confederações. Levy acredita que o serviço de banda larga móvel terá o sucesso comercial esperado, graças ao crescente convívio com a ainda novidade, e, repetindo a tese do governo, o 4G vai ter importante papel de desafogar o 3G. “O usuário da internet móvel em alta velocidade é justamente o mais demandante das redes em todos os formatos. Sua migração para o LTE traz, portanto, alívio”, sustenta. INSERT Compartilhamento Para acelerar a implementação do 4G no Brasil e atendendo recomendação do governo, TIM e Oi assinaram um plano de compartilhamento de redes, medida que foi acompanhada em seguida por Claro e Vivo. O uso compartilhado de redes deverá se firmar como tendência no Brasil em razão dos seus benefícios econômicos e dos ganhos de tempo, com uma infraestrutura necessária complexa e cara e com a proximidade da realização dos grandes eventos esportivos.

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