Cidadania digital

Sílvio Ribas Está chegando o dia em que todas as pessoas no mundo serão reconhecidas apenas pelo olhar ou pelo aperto de mão. Não se trata do retorno aos tempos românticos, nos quais palavras empenhadas valiam como documentos escritos ou relações entre pessoas expressavam verdades tão fortes quanto simples. O futuro próximo que estou prevendo não é uma era plena de cavalheirismo, mas sim de tecnologia digital. Câmeras espalhadas em espaços públicos, cadastros informatizados em nível global e uma onipresente tecnologia para identificar indivíduos conforme as características físicas estão nos levando a nova forma de cidadania, a digital. Acenos nessa direção podem ser vistos com clareza no cotidiano, como o acesso biométrico a caixas eletrônicos de banco ou como a nova geração de urnas eleitorais. As facilidades para pagar impostos pela internet também fazem parte desses sinais de mudança, mas esses canais podem ser ainda mais eficientes para dar agilidade às necessidades do povo. Ao contrário daquilo que os teóricos da conspiração insistem em apontar como riscos à privacidade, a digitalização é a melhor arma para defender os cidadãos de bem dos criminosos. A rapidez com que as imagens dos terroristas de Boston foram apuradas e divulgadas, levando logo à sua captura, é um ponto a favor. Um Big Brother orientado pelas leis e pelo interesse coletivo não pode ser visto como bisbilhoteiro ou discricionário. O espaço público é do público, onde deve imperar a liberdade geral limitada pelos direitos individuais. Em grandes e pequenas cidades do país, a consulta corriqueira de informações na rede mundial dos computadores e o crescente uso de vídeos como provas de crimes já levou à prisão de bandidos e ao desbaratamento de golpes. A mão inversa disso tudo é que as pessoas que se expõem demais nas mídias interativas chegam a abrir portas para mal-intencionados. Somente dentro de uma ou duas décadas é que teremos um ponto de equilíbrio consolidado entre a transparência total daquilo que deve ser transparente e o uso responsável dessas conquistas. A invasão de dados pessoais efetuada por inúmeras empresas já ocorre de várias maneiras, desde o recebimento de torpedos com propagandas no celular até sondagens não autorizadas nos nossos computadores pessoais pelos sites de busca. O equilíbrio que espero é o de preservar todos aqueles que não têm nada a temer perante a Justiça. Fonte: Correio Braziliense de hoje

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