Senador Caxias mandou bem

Leiam a entrevista do ator Carlos Vereza ao Correio Braziliense do último domingo. (Memórias de um opositor - 20/01/2013) Aos 73 anos, Carlos Vereza responde por um histórico impressionante. São mais de cinco décadas dedicadas ao trabalho. Filmes somam 13, as peças ultrapassam 30 e as novelas excedem 40. O rosto expressivo costuma ser lembrado pelos personagens mais notórios, como o de Graciliano Ramos, em Memórias de um cárcere, que o levou ao reconhecimento internacional, e do senador Caxias, em O rei do gado. Ao lado da trajetória artística, Vereza se tornou uma voz proeminente na classe quando passou a opinar sobre a política brasileira. No ano passado, ele lançou Efeito especial - Estilhaços biográficos, livro que reúne ideias e passagens autobiográficas. Por que o nome Efeito especial — Estilhaços biográficos? Qual o principal cerne da obra? O livro se motiva a partir de um episódio que estava há muito tempo na minha cabeça. Um acidente que aconteceu durante uma gravação. Colocaram muita pólvora em uma cena de tiro e estourou meu ouvido interno. Fiquei três anos com labirintite, sem poder trabalhar. Um desastre. Também revela minha trajetória de ex-comunista ao espiritismo. O filme Memórias de um cárcere foi um marco em sua carreira. Apesar da ampla visibilidade gerada naquele momento, a obra se tornou um fardo de alguma maneira? Muito pelo contrário. O filme me projetou não só nacional, mas internacionalmente. Tive páginas nos jornais Liberatión, Le Monde, fui capa da (revista) Veja. Mas não só isso. Foi uma oportunidade, nos estertores da ditadura, de poder fazer aquele filme. E com o Nelson Pereira dos Santos, com quem fiz outro filme, o Brasília 18%. Quais os projetos engatilhados? Tenho cinco peças — quatro publicadas, duas montadas — e escrevi uma recentemente, chamada O teste, que vou estrear em abril, aqui no Rio. Somos dois em cena. Eu e a Carolinie Figueiredo. Fala de uma menina que vai fazer uma audição em um estúdio picareta, e a relação dos dois até o desenlace que não posso contar agora. Escrevi porque minha filha (a atriz Larissa Vereza) foi fazer um teste para uma estação, que não vou revelar o nome, e passou. No dia seguinte, quando ela retornou para assinar o contrato, já tinha outra pessoa. Ou seja, o teste é apenas divulgação, para sair na mídia. Agora, a peça não é sobre a vida da Larissa. Aproveitei apenas o gancho dramático. Volto depois de 21 anos. Desde o acidente. Há rumores de que o convívio profissional com o senhor seja difícil. Procede? Não sei o porquê. Acabei de fazer cinco trabalhos com (o diretor da Rede Globo) Rogério Gomes e nunca houve qualquer problema. Agora, não suporto trabalhar com diretor que eu perceba que não sabe o que está fazendo. Não consigo. Sou facílimo. Até pela minha postura espírita. Se assim não fosse, como eu chegaria a 54 anos de carreira (completados em dezembro)? Estaria morto de fome. Não tenho paciência nem idade para aquele diretor que fica gritando, ensaia 20 cenas de uma vez. Mas não tenho queixas com a televisão. O cronista esportivo João Saldanha tinha uma frase maravilhosa: “Quem reclama, já perdeu”. Vivo minha vida, numa boa. Fico em casa, tocando minha flauta, lendo. Quando preciso gravar, gravo. O senhor passou mais de 20 anos militando em prol do Partido Comunista. Por que hoje se intitula um ex-comunista? Quando eu era do Partido Comunista, eu era de um partido com um ideal. Eu ia para as reuniões do partido com um cordão de São Jorge. Fui batizado, fiz primeira comunhão, tudo isso. Eu nunca acreditei que o mundo fosse obra do acaso. Então, carregava meu protetor, um santo de quem sou devoto. O clique para eu sair do partido foi quando a antiga União Soviética invadiu a Hungria. Ali pensei: “Isso não é legal”, e caí fora. Apesar do fim do vínculo partidário, o senhor ainda simpatiza com a proposta do comunismo? Qual a proposta do comunismo? É sempre uma sociedade fechada, totalitária, sob censura. Eu não posso concordar com isso. Depois da queda do muro de Berlim, depois de toda a falência do sistema comunista, veja o PT oportunista, falando em socialismo, comunismo. Entretanto, é o partido que mais tangenciou a corrupção neste país. Em nome de quê? De ideais, partido… Tudo mentira. Está aí o mensalão para provar isso. O senhor ficou, de alguma maneira, surpreso com o resultado do mensalão? A surpresa foi a digna atitude da maioria dos juízes. Mas eu sabia que isso estouraria. Tanto que cantei essa bola oito anos antes. O que faz eu desconfiar do PT? Na época da ditadura, só tinha o Arena e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Quando, entre 1978 e 1980, eles fundaram o PT, eu disse: “Como a ditadura está permitindo a fundação desse partido?”. Era para dividir a esquerda que estava voltando do exílio. Sem a menor dúvida. E não deu outra. Dividiu a esquerda e transformou-se em um partido cuja proposta de governo é a perpetuação no poder. E o Lula nessa história? Ele está sendo processado. Fora aquela jogada dele com a Rosemary Noronha (ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo), que desembarcou em Portugal com malas de euros. Enfim, ele está sendo julgado. Acredito que não tinha como ele não saber que José Dirceu, (José) Genoíno e Delúbio (Soares) estavam armando o mensalão. Como o senhor avalia a atuação da recém-empossada Marta Suplicy à frente do Ministério da Cultura? Como nunca pedi dinheiro a este governo, tanto faz. Ela foi nomeada ministra da Cultura por uma jogada que culminou com o apoio ao (Fernando) Haddad em São Paulo. Então, é mais um oportunismo. É engraçado que os quadros do PT tenham uma polivalência fascinante. O (Aloizio) Mercadante pode ser ministro da Educação, da Ciência e Tecnologia, ministro de tudo. A Ideli Salvatti assume a Secretaria de Relações Institucionais, mas se a colocarmos no Ministério da Pesca, também dá certo. Quer dizer, “dá certo”, entre aspas. O problema é empregar essas pessoas. Eles não colocam cada quadro de acordo com sua competência. O Haddad foi ministro da Educação, nenhum Enem deu certo — inclusive o mais recente — e agora ele é prefeito de São Paulo. “Peraí !” O senhor está convencido de uma falência política e social? Por exemplo, há três anos, tivemos, aqui no Rio de Janeiro, enchentes terríveis. Agora, novamente. Como se fossem “tragédias e mortes anunciadas”. Outra vez, morreu gente, casas desabadas. O povo chora em frente às câmeras, com toda razão, mas não se organiza para ir para a frente do palácio do (Sérgio) Cabral ou para a Câmara dos Deputados protestar. É um povo que não protesta. Contra a própria corrupção, nada além de uma ou duas passeatas em Brasília, ou aqui no Rio, com 100 pessoas no máximo. O povo não está nas ruas… É um povo extremamente conformista e pacífico. Agora, existe uma coisa chamada economia. Meu amigo, PIB de 1%, inflação a 6%, superavit primário não sendo alcançado — a tal ponto que eles querem mudar a aferição do IBGE, olha como são totalitários. Eles querem fazer que nem a Cristina Kirchner, que mudou todos os métodos de aferição na Argentina. Fazem tudo. É um programa de marketing. Com o que eles pretendem gastar com o trem-bala, R$ 70 bilhões, daria para construir 2 milhões de casas para o povo. E o trem-bala não sai do papel. A transposição do Rio São Francisco está abandonada. E por aí vai.

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