Lições da China

Por João Camilo Penna
A China, grande e profunda, em 4 mil anos de história registrada, passou por invasões, fomes, humilhações e retomadas. Como bambus, os chineses vergam e voltam. Em 18 dos últimos 20 séculos, foi a maior economia do mundo, logo voltará a ser a primeira em PIB, mas não em poder. Hoje, é a segunda, com 12% do PIB e 20% da população mundial em território da grandeza dos EUA e na mesma faixa de latitudes. Não buscam os chineses colônias, contentam-se com comércio mundial e investimento externo. Seguem os ensinamentos de Aprendizado e harmonia, de Confúcio, e da constatação de que o poder baseia-se em recursos econômicos e científico-tecnológico. Crescem com visão milenar e esperança sem ânsia. Realizam trabalhos coletivos superando tempos de vida individual. O Partido Comunista pratica socialismo chinês, um quase capitalismo. Planejam ir de uma economia de baixos salários para uma de alta tecnologia. Presente no Conselho de Segurança da ONU e na Organização Mundial do Comércio (OMC), a China tem o maior comércio, US$ 3 trilhões. Cresceu de 7% na indústria mundial em 2000 para 17% em 2011, enquanto o Brasil ficou parado em 1,7%. São carcterísticas da China: um governo autocrático; ampla mão de obra; escala de produção, inovação, ciência e tecnologia; atração de capitais estrangeiros; boa infraestrutura, grande crescimento, excesso de Estado, má distribuição de renda; desemprego, um filho por casal; corrupção, poluição. Desvaloriza a moeda em até 25%, atrai capitais, inclusive pela busca de salário baixo. Investiu fora US$ 250 bilhões e recebeu US$150 bilhões. Falta água. Investe muito com sua mão de obra na África, onde o Brasil emprega africanos e leva a Embrapa. Em 2011, exportamos-lhe US$ 44 bilhões, 88% em minérios e produtos básicos; enquanto importamos US$ 30 bilhões, sendo 60% de manufaturados. O preço médio da exportação à China é de US$ 120/tonelada, e aos EUA é US$ 800/tonelada. Colonialismo chinês! A China investiu no Brasil cerca de US$ 49 bilhões. São características do Brasil: democracia, legislação não competitiva e sem atenção à ciencia e tecnologia. Enquanto a China é unipartidária, tem legislação competitiva, inovação, desenvolvimento científico. A China crescia mais de 10% ao ano, hoje, entre 6% e 7%. O Brasil, de 1900 a 1980, teve um dos melhores crescimentos do mundo e a China vivia em revoluções. Em 1981 o Brasil entrar em baixo crescimento e a China acelerar. De 1994 a 2002, o Brasil crescia à media da América Latina, 2,3% ao ano. De 2003 a 2010, a 3,8%ao ano; a AL, a 4,8%. Em 2012, o Brasil a 1%, e a AL, a 3,2%. O Brasil tem 8,550mil km², 195milhões de habitantes, 1,6 engenheiros por 10 mil habitantes. PIB de US$ 2,5trilhões. Tributos, 37% do PIB. Poupança, 18% do PIB, PIB per capita US$ 12.800, e 38 ministros, nomeados por indicações políticas. A China tem 9,6 mil km², 1,33 bilhão de habitantes, 4,6 engenheiros por cada 10 mil habitantes. PIB de US$ 8,8 trilhões. Tributos representam 24% do PIB, a poupança é de 45%do PIB; e o PIB per capita, US$5.800. Tem 22 ministros, com cientistas e engenheiros. Frase do empresário Aguinaldo Diniz: “Queria ver preços de têxteis chineses, se produzidosno Brasil!” A China, com superávit em conta-corrente e reservas de US$ 3,2 trilhões, preocupa-se com o abismo fiscal dos EUA, que arrecada US$ 3trilhões e gasta US$ 4,2 trilhões ao ano – déficit 8% do PIB –; emite moeda e desvaloriza o dólar. A China investe reservas, compra ativos e commodities, agrega valor, exporta a baixo preço, sofre ações antidumping. Indústrias daqui, sob impostos altos, moeda valorizada e custo Brasil, ao competir com custos chineses e moeda desvalorizada, perdem mercado interno e em terceiros países, umas fecham ou vão para lá. Na China, a indústria de transformação atinge 40% do PIB. No Brasil, ela caiu, em tendência mundial, de 25% do PIB a 13% em 2011; a sua exportação caiu. Na expansão industrial entre 2011 e 2012, o Brasil é o 25º dos emergentes. Cabe ao governo desvalorizar o real, prestigiar a defesa comercial, reduzir a despesa publica e a tributação, com diminuição da pressão inflacionaria; e prover mais infraestrutura. Cabe ao empresário a competitividade interna. O governo chinês quer liderança, harmonia e poder brando. Espera-se que cuide do meio ambiente. Hoje, EUA e China, inebriados, apoiam-se mutuamente em um consumismo ameaçador. Já com grande reserva, a China volta ao mercado interno pobre. Investimentos caem de 48% do PIB para 34% em 2025, o consumo vai de 52% do PIB para 66%. Listou em 2012 produtos que poderá comprar aqui. Para competir no mundo, lembremo-nos de que “o conhecimento vem da práxis”. Dialoguemos e negociemos com a China e outros países, com o FMI e a OMC, sobre desvalorizações e distorções no comércio exterior. Façamos o que nos cabe para maior produtividade e a competitividade que dela deriva. Engenheiro, ex-ministro de Indústria e Comércio, ex-presidente de Furnas e da Cemig (Estado de Minas)

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