Minutinho de ATENÇÃO

Sílvio Ribas
O maior negócio do século 21, no Brasil e no mundo, não é o pré-sal nem a engenharia genética nem a TIC, sigla que combina telecomunicações com informática. A grande competição capitalista hoje é por um bem tão prosaico quanto essencial ao jeito humano de ser: a atenção. Para merecer segundos do olhar ou da audição de qualquer pessoa, empresas, políticos e difusores de filosofias recorrem permanentemente aos modernos recursos digitais e analógicos. Hoje, praticamente todos lutam contra todos para angariar minutinhos da atenção do outro, seja para benefício próprio ou de uma organização. A batalha é dura e as suas investidas são cada vez mais intensas. Nesse mundo repleto de mídias, que ainda buscam ocupar espaços íntimos de nossas vidas, não faltam sons e displays de todos os tipos e tamanhos convocando cada indivíduo. Querem dizer algo, vender algo ou simplesmente marcar presença na névoa espessa de símbolos e mensagens. Na mitologia grega, a esfinge pede para ser decifrada sob pena de devorar quem ouve sua charada. Agora é a vez de a esfinge tentar derrubar todas as barreiras para entrar na cabeça do decifrador e lá ficar no tempo que puder. Como as mudanças ocorrem num ritmo ultraveloz, a análise sobre as suas motivações e os seus efeitos parecem difíceis de serem dissecados. Filósofos, engenheiros da informação, terapeutas e outros especialistas tentam dimensionar a amplitude da chamada economia da atenção, mas só tateiam essa realidade mutante. O fato é que já somos governados por um novo ambiente de heróis e de vilões instantâneos, fatos pautados pelo acaso e disparadas diárias de manadas digitais. Estar ligado pode ser apenas estar conectado a uma porta giratória com emaranhado de pixels e rostos aleatórios. Se consegui o obséquio de sua atenção, caro leitor, marquei um pontinho na briga cósmica pelos corações e mentes, a mesma que pesquisadores teorizavam no fim dos anos 1990, após o desmoronamento do bloco soviético e da Guerra Fria. A lógica virou outra e nos assustamos em ver jovens e adultos gastando horas do dia em conversas fúteis na rede, em jogos eletrônicos sofisticados e debruçados em assuntos sem qualquer importância. Para despontar ou aparecer nesse universo, belas manifestantes exibem seios em praça pública, radicais árabes estampam faixas escritas em inglês e megafones dão lugar a torpedos de celular. Enquanto isso, gestores reclamam dos empregados hipnotizados pelas redes sociais e pais menos conectados cobram dos filhos independência das ondas digitais. Correio Braziliense, 31/01/13

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