Efeito Tostines

O ano começou como um desafio para a presidente Dilma Rousseff. Fazer a economia crescer como ela quer, e como o calendário eleitoral começa a impor, vai requerer mais investimento direto, tanto privado quanto público. Para isso, o governo precisa também tirar do horizonte as incertezas colocadas pela mão pesada do Estado, mudando regras de concessões e enquadrando setores empresariais. O tal pibão de 4% ou mais que ela deseja ver em 2013, ante os dois anos anteriores de pibinhos, será uma empreitada e tanto. Se tudo isso já não era difícil o bastante, o noticiário sobre a iminente escassez de eletricidade revelou também uma fragilidade que parece ser o golpe mortal sobre qualquer pretensão de arrancada econômica. O professor da PUC-RJ José Márcio Camargo não tem dúvidas de que o problema da energia “vai afetar investimentos e o nível de atividade em 2013”. Com isso, o dilema de Dilma já pode ser resumido num simples jogo de palavras. “Se houver pibão, haverá racionamento. Se houver racionamento, não haverá pibão”, como provocou Alberto Goldman, ex-governador de São Paulo e vice-presidente do PSDB. A afirmação dele remete a uma relação íntima entre causa e efeito e lembra o famoso slogan do velho comercial dos biscoitos Tostines, da Nestlé: “É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?” O mesmo também serve para a inflação. Se houver pibão, o dragão tentará se libertar das últimas amarras e ostentar dois dígitos. Mas se continuar evoluindo como agora, em meio a pibinhos, poderá fazer o país flertar com o pesadelo estagflacionário, uma combinação de desvalorização da moeda — leia-se perda do poder de consumo — e recessão. A oposição não se sensibilizou mesmo com a reiterada negativa do governo de que o risco da volta do apagão de FHC, de 2001, está afastado pela “robustez” do sistema. Para eles, houve, sim, falha no planejamento e as dificuldades atuais já limitam a expansão da economia. “Estou impressionado com o desprezo da presidente à forte possibilidade de racionamento”, martela José Carlos Aleluia, ex-deputado (DEM) e ex-presidente da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

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