Privacidade zero


Por Sílvio Ribas
Correio Braziliense - Opinião
Publicação: 10/05/2012
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O admirável mundo novo das comunicações digitais forjou mais um adjetivo para os atos associados à invasão de privacidade. Além de estuprado, violentado, arrombado e grampeado, está consolidando a sua presença nessa lamentável coleção o termo hackeado. O furto de informações pessoais gravadas nos discos de computadores cada vez mais onipresentes fere bolsos e biografias com a covardia turbinada pelo anonimato. Quando o crime agride em cheio a intimidade das vítimas, o estrago parece ser, virtualmente, do tamanho de toda a rede mundial dos computadores. Incalculável.

Semana passada foi a vez de outra celebridade pautar como espetáculo uma transgressão que caberia melhor nas páginas policiais e nas análises de juristas. As 36 imagens mostrando a estrela global Carolina Dieckmann nua ou em momentos de descontração no lar rodaram o planeta e fizeram a festa de redes sociais. Seus nus frontais e seios de fora caíram na internet e ficaram ao alcance de dois cliques, além de serem reproduzidos, editados e indexados por blogues aos borbotões. Além de não autorizada, a exposição viral da moça no ambiente doméstico a deixou visivelmente abatida.

Trata-se de uma injúria descomunal, seja pela banalidade ilimitada, seja pela licença que dá a qualquer desconhecido tripudiar sobre a injuriada. Como se não bastasse viver tempos tão loucos %u2014 que nos convidam a deixar translúcidas nossas paredes com todos os agravantes possíveis %u2014, ainda se multiplicam julgamentos ferinos, não gabaritados e gratuitos de terceiros sobre como a vítima deveria ser.

A privacidade zero já é estilo de vida para muitos e outros tantos apelam para escandalizar o umbigo como meio de ganhar ou recuperar popularidade, vide os BBBs da vida. Chegamos a um ponto em que, de tão acostumados com a devassidão alheia exibida nas telas de todos, a divulgação das imagens da atriz chega a ser vista como intencional. No meio cibernético, abuso e descuido podem andar juntos. Mas a mão dupla da interatividade on-line, de acessar e ser acessado, pode ter garras afiadas. Na indignação de gente famosa não percebemos que todos fomos arranhados e execrados.

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