O dia que os Estados Unidos quase pararam


Guerra do orçamento nos EUA

SÍLVIO RIBAS

O impasse no Congresso dos Estados Unidos entre governo (democratas) e oposição (republicanos) em torno da votação do orçamento federal de 2011 QUASE paralisou o setor público e perturbou a vida de cidadãos da maior economia do mundo. Os congressistas QUASE não conseguiram chegar a um acordo ontem, prazo final para aprovar os gastos no atual fiscal. Até a meia noite, os dois lados trocaram acusações sobre quem era o responsável por deixar o governo sem verba, ameaçando 800 mil servidores.

O risco era de acumular lixo nas ruas de Washington, fechar acesso à Estátua da Liberdade, em Nova York, e deixar astronautas em casa. Os militares continuarão trabalhando, mas não receberão pagamentos enquanto o impasse não terminar. Serviços vitais, como os de defesa, jurídico, atendimento médico de emergência e controle de tráfego aéreo, continuariam, garante o governo. Se não houvesse um acordo, todos serviços da administração pública considerados "não essenciais" serão interrompidos.

A batalha sobre o dinheiro necessário para manter o governo funcionando até setembro, quando termina o ano fiscal de 2011, continua. Republicanos culparam o governo pela indefinição sobre o montante a ser cortado das agências nos últimos seis meses do ano.

Os democratas, por sua vez, lembraram que havia acordo para cortar US$ 38 bilhões, mas a oposição recuou para atender deputados que insistem em esvaziar o programa que fornece assistência médica e planejamento familiar a mulheres de baixa renda. Republicanos insistem agora na retirada de US$ 61 bilhões e defendem a suspensão dos fundos destinados ao programa de Planejamento Familiar. Os senadores democratas tentaram aprovar medida para evitar que falte dinheiro, pelo menos, na semana que vem.

A chamada guerra do orçamento levou o presidente Barack Obama a adiar uma viagem com a família no fim de semana para Williamsburg, Virgínia, para acompanhar as negociações. Em busca de um acordo, ele se reuniu quatro vezes na semana com o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, e com o líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner. O presidente acha que o impasse ameaça a recuperação da economia do país. "Para nós, ir para trás porque Washington não conseguiu chegar a um acordo, é simplesmente inaceitável", afirmou Obama.

Os republicanos teriam desistido de cortar gastos da Agência de Proteção Ambiental com a regulação de gases poluentes. "A maioria das questões políticas foram tratadas e a grande luta é a cerca de gastos", disse Boehner. Ele quer que Obama aceite projeto paliativo que serviria para financiar o Departamento de Defesa por seis meses, cortando US$ 12 bilhões em despesas. "Esta é a coisa mais responsável a se fazer para apoiarmos nossas tropas e mantermos o governo em funcionamento", disse.

A Casa Branca considerou a proposta uma "simples distração" e avisou que vetaria o projeto. O Senado também se recusou a considerar a medida. Pressionados pelo movimento ultraconservador Tea Party, maioria na Câmara, os republicanos defendem cortes profundos nos gastos para enfrentar a crescente dívida dos EUA causada pelo deficit descontrolado da última década. O montante deve chegar a US$ 1,4 trilhão este ano, elevando o passivo para US$ 14 trilhões.

Os principais índices das bolsas norte-americanas recuaram naquele dia em função da incerteza sobre o desfecho das negociações sobre o orçamento dos EUA, que incentivou investidores a se precaverem antes do fim de semana. A Bolsa de Nova York caiu 0,24% e o Nasdaq, 0,56%.

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