Perdemos a guerra de canudos


Somos todos cozinheiros

Sílvio Ribas

Uma derrota acachapante na mais alta corte do país para as entidades que representam essa tal categoria dos jornalistas brasileiros. Oito votos a um (ainda estou zonzo). O dia 18 de junho de 2009 encerra 40 anos de vigência do diploma. Tive a honra de portar esse documento na quase metade desse tempo, que coincide com quase 50% de minha vida.

Em tese, poderia aceitar a maior parte dos argumentos dados ontem pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Sei também que as escolas de comunicação deixam a desejar e são em número exagerado. Mas não posso concordar com a ideia (sem acento, apesar de meu corretor automático insistir) de que essa profissão é menos importante do que dentistas e engenheiros, porque “não traz riscos à coletividade”. Esse negócio do Gilmar Mendes, presidente do STF, nos comparar com cozinheiro nos deixa com de avental na mão.

O mau jornalista pode ser mais lesivo que um cirurgião. No fim das contas, é tudo uma questão de mercado, de oferta e procura. Agora que qualquer um pode exercer a profissão que escolhi e investi tempo e dinheiro, a porta de acesso às redações se alarga absurdamente (até em concursos públicos), enquanto as parcas oportunidades formais de trabalho nas grandes empresas continuam se estreitando (vide caso da falecida Gazeta Mercantil).

Desregulamentar mercados é baratear mercados, uma regra universal. Em resumo: salários em queda e risco ainda maior de desemprego. Para piorar, a revolução digital democratizou a mídia de tal forma que muitos “independentes” já fazem seu jornalismo de garagem com grande pretensão. O mundo todo já sabe usar da Internet para ganhar notoriedade, vide os cartazes em inglês das iranianas esta semana e a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), meramente retórica até outro dia, virar marketing consciente, de logomarca e tudo.

E o jornalista? E a garra com ética? Raciocinar e escrever rápido podem ser habilidades de um candidato a ser repórter. Apurar bem e ter visão crítica é obrigação desse candidato. Vender verdades como ganha-pão é atividade insubstituível para qualquer um que tenha o jornalismo como ofício.

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