Autoridades leves e doces
Sílvio Ribas
Recordo com ternura os meus dias de menino em Curvelo (MG), época em que o respeito e a solenidade permeavam muitos instantes da vida cotidiana, marcados pela presença de autoridades cujos poderes – reais ou meramente simbólicos – se desdobravam em cenas quase ritualísticas.
Naquele universo dos anos 1970 e início dos 1980, os mestres de cerimônia e chefes de trabalhos, com vocábulos pomposos, anunciavam sempre as “autoridades civis, militares e eclesiásticas”, imbuindo os eventos de uma atmosfera de formalidade quase sacra. Admirava ver aquilo tudo.
Todavia, o encanto da minha infância residia também no elenco paralelo de personagens, dotados de títulos exuberantes para funções que, embora revestidas de alguma pompa, tinham leveza e doçura próprias. Não eram donos de poder temível, mas protagonistas folclóricos e carismático.
Havia generais das bandas, presentes em festas populares e coretos, conduzindo desfiles com graça. Eles eram a personificação da música e da celebração. E ministros investidos de missão da Igreja Católica ajudavam a distribuir a hóstia consagrada a fiéis na missa ou enfermos no próprio lar.
Também me recordo com orgulho dos líderes de grêmio estudantil – função que tive a honra de exercer na Escola Estadual Interventor Alcides Lins, no Centro Cívico Irmã Raimunda Marques. Fazíamos ensaios da vida política, plantando a semente do bom debate e das decisões em comunidade.
Os presidentes de bingo, por sua vez, com seus avisos entusiasmados ao cantar pedras sorteadas e vencedores, transformavam a brincadeira numa celebração coletiva, unindo nossa gente em momentos descontraídos. Bingo! Linha! Confere!
E como não mencionar os reis e rainhas da quermesse? Estes soberanos da festa popular e religiosa, sejam como maiores doadores ou mobilizadores dedicados da arrecadação, imprimiam sentido de pertencimento e nobreza, elevando o espírito comunitário ao nível espiritual.
Naquela época, autoridades apenas representativas tinham caráter poético e alegórico, dourando nosso cotidiano com sua generosidade. Esses heróis guardavam e transmitiam tradições. A eles, meu obrigado e reverência. Digníssimo, meritíssimo, eminentíssimo, excelentíssimo...
Comentários