A reflexão que sugiro é sobre o varejo dessa “mágica” a habitar em todos nós. Sempre haverá o momento do brilho individual a encantar o outro. Ao revelarmos uma capacidade de fazer algo extraordinário com uma aparente facilidade mostramos o diferencial humano. Surpreender positivamente faz parte do nosso show e o nosso atributo raro só prova que carregar consigo raridades é algo genérico. Resguardados os gênios, somos todos “Magic”.
Artistas e desportistas costumam ser os pródigos em fazeres únicos, mas creio haver uma cota para cada um de nós a ser exposta. Se Naná Vasconcelos faz percussão com o próprio corpo, um dedetizador de minha terra natal produzia sons de trompete com a boca. Se Nelson Rodrigues escrevia suas colunas numa sentada, batucando por poucos minutos sem parar, me lembro de velho primo fazendeiro que fazia mapa astral de todos na lata.
São muitos gestos mágicos de profissionais anônimos levados ao público cotidianamente. Exemplos? A caligrafia rápida e precisa do cartazista de supermercado, o preparo do coco gelado a golpes de facão na barraca de praia e a massagem do terapeuta cego na sala de embarque do aeroporto que tira dores. A gambiarra brasileira também é mágica, seja reparando carro importado com peça improvisada ou domando onças com assobios.
Se o mercado focasse mais nos talentos ditos pequenos e nos diferenciais curiosos de cada um, talvez encontrássemos saídas honrosas para o avanço sem dó e piedade das tecnologias digitais e da inteligência artificial sobre todas as esferas do trabalho. Qual é então a sua mágica? Se você ainda não sabe, descubra logo, invista nela e encante o mundo. A distância entre o dom e o tesouro pode ser nenhuma e a predisposição de brilhar é de todos.
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