Adorável trapalhão francês

Sílvio Ribas

A comédia que atraía a gurizada para as salas de cinemas nos anos 1970 e 1980 não se limitava a Os Trapalhões. Além de Mazzaropi, ainda tínhamos as divertidas aventuras de Louis de Funés, maior comediante francês de todos os tempos. Enquanto Jerry Lewis reinava nos papeis cômicos televisionados, os que víamos só na telona davam o trono ao gaulês.

Protagonista de várias produções, o ator tinha no sargento Ludovic Cruchot, o policial militar bagunceiro do balneário de Saint Tropez, seu personagem mais conhecido, que brilhou em série cinematográfica própria de sucesso internacional. O gendarme, ao lado do chefe Jérôme Gerber, interpretado por Michel Galabru, fazia gargalharem até as poltronas do Cine Virgínia, em Curvelo, lá no meu sertão de Minas.

Dos longas estrelados por Funès que assisti na minha feliz infância, lembro com mais carinho de O Gendarme e Os Extra-Terrestres (1979), no qual ele e seus companheiros de armas combatem alienígenas que se misturavam à multidão. A cena mais hilária é, para mim, a dos velhos soldados a bordo do disco-voador em queda livre cantando tal qual um coral de igreja.

Outro momento inesquecível daquele baixinho careca de olhos azuis é a dele em As Loucas Aventuras do Rabbi Jacob (1973). Divertido e educativo, o filme conta a história do homem preconceituoso contra imigrantes que se vê forçado a se disfarçar de rabino numa viagem para escapar de apuros. O take dele sendo obrigado a dançar com a comunidade judia é impagável.

Funés, que morreu em 1983, aos 69 anos, depois de ter levado milhões para ver suas trapalhadas, sempre me pareceu personagem de minha própria família. Associo a sua figura àquela dos meus velhos tios piadistas, que gostam de brincar e pregar peças sem netos e sobrinhos.

Sim, nos meus tempos de calça curta, tinham adultos que adoravam fazer caretas ou colocar peruca ou chapéu engraçado só para tirar risos da gente. Eles também jogavam água em transeunte, escondiam debaixo da cama para assustar quem nela se deitasse, e andavam de bicicleta com as pernas levantadas. Bons tempos.

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