Internacionalização ameaçada

Sílvio Ribas, Enviado especial a Sohar, Omã A aprovação, pelo Congresso Nacional, da polêmica Medida Provisória (MP) 627, que aumenta a carga tributária das subsidiárias de empresas no exterior, surpreendeu empresários e governos estrangeiros à espera de investimentos diretos brasileiros. As companhias afetadas pela medida alegam perda de competitividade global. Andre Toet, presidente da operadora do complexo portuário de Sohar, no litoral norte de Omã, na Península Arábica, informou ao Correio que negocia com multinacionais do Brasil a implantação de indústrias na região, sendo um frigorífico de aves o maior destaque. Mas o desfecho dessas conversas pode ser diferente do esperado, dependendo de como ficará a legislação após a sanção presidencial. "O protecionismo econômico é uma resposta tentadora para governantes, diante do desafio de gerar empregos, mas ele quase nunca acaba sendo um bom negócio", observou o executivo da Sohar, um holandês, ao avaliar com surpresa o avanço da MP 627, mesmo com todas as alegações contrárias apresentadas pelas empresas. A promissora zona portuária omani abriga, desde 2011, o principal investimento da Vale na região — uma peletizadora, um terminal marítimo e um centro de distribuição —, atividades que têm servido de suporte à atração de projetos industriais do setor metalúrgico. "Há espaço físico e operacional da companhia em nossa área de concessão", sublinhou Toet, líder da parceria meio a meio entre o governo local e a administração do Porto de Roterdã, na Holanda. O gerente responsável pela coligada da Vale em Omã, Sérgio Leite, comemorou o sucesso dos negócios no país e descartou efeitos negativos da nova legislação sobre os investimentos na região arábica. "Nossa meta agora é a consolidação dos negócios", resumiu, ressaltando que questões tributárias e estratégicas são tratadas apenas pela diretoria executiva, no Rio de Janeiro. As vendas da mineradora brasileira no Oriente Médio alcançaram US$ 1,5 bilhão em 2013, crescimento de 28% ante o ano anterior, puxado justamente pelas entregas de pelotas de minério made in Oman. A produção está perto de atingir a capacidade máxima, de 9 milhões de toneladas por ano. A presença da Vale no Porto de Sohar foi apoiada pelo governo, conforme discurso feito pelo vice-presidente Michel Temer em um encontro com empresários durante visita oficial a Omã, há exatamente um ano. O investimento visou o mercado de metais para construção do Oriente Médio, um dos que mais cresce, embalado por obras de infraestrutura. O texto da MP 627 aprovado pelo Congresso fixa prazo de oito anos para as empresas recolherem os tributos que incidirão sobre o lucro no exterior. A primeira parcela deve corresponder a 12,5% do lucro apurado e não distribuído. No começo de maio, o Sultanato de Omã e multinacionais presentes naquele país realizam seminário em São Paulo para apresentar resultados e, sobretudo, para convidar empresas brasileiras a se integrar à sua plataforma exportadora. O repórter viajou a convite do governo de Omã. Fonte: Correio Braziliense de 19/04/14

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