Mama África

Por Sílvio Ribas O mundo deve muito ao continente africano. E não estou falando apenas da infâmia da escravidão de milhões de degredados no passado remoto e que até hoje envergonha o Ocidente. Foi da nossa Mama África, como assim cantou o compositor Chico César, que herdamos uma belíssima cultura, universal sobretudo na pulsação de sua música, presente desde o rock até o samba. Foi de lá também que o primeiro ser humano se colocou de pé, saiu vitorioso na luta pela sobrevivência da espécie e iniciou uma fantástica caminhada até conquistar todo o planeta. Pois bem. É no século 21 que a humanidade parece estar diante da oportunidade de levar bem mais do que simples ajuda humanitária e força pacificadora aos ainda sofridos habitantes das savanas, montanhas, praias e desertos, na grande maioria negros. Como última fronteira da globalização econômica, a região com um bilhão de pessoas tem grande potencial para interferir positivamente nos números do comércio internacional e na sustentação do progresso global. Brasil e China, cada um com suas respectivas e bem distintas armas diplomáticas e financeiras, estão em campo para promover esse novo encontro da África com os mercados externos. As amplas extensões de terra virgem, as riquezas no subsolo e no fundo mar e um inexplorado mercado consumidor dão motivos de sobra para que mercados desenvolvidos e emergentes busquem resgatar demandas históricas e incorporem de vez essa parte do velho mundo ao dinamismo capitalista. A região cresce a um ritmo médio anual de 5,2% desde 2000, segundo dados do Banco Mundial, chegando a 13% e 16%, casos de Benin e Guiné Equatorial, respectivamente. A riqueza do petróleo associada a momentos de reconstrução de países como Angola começou a pautar essas transformações positivas, ainda repletas de distorções mas não menos desafiadoras e atraentes. Depois do encerramento do ciclo neocolonialista, nos anos 1970, e do término dos abusos variados sob tutela europeia, a história registrou uma ampla e uma profunda desordem social e política na maioria dos atuais 54 países africanos, marcada pelas sangrentas guerras tribais, pelo exílio de populações, pela fome em massa e segregação do apartheid. O quadro caótico conseguiu importantes reversões, mas o continente mais pobre do mundo, onde estão quase dois terços dos portadores do HIV, ainda segue uma rotina de conflitos armados, avanço de epidemias e o agravamento da miséria. Em algumas nações já é possível, contudo, assistir a uma relativa estabilidade institucional e progresso material sustentável, caso África do Sul, mercado que tem sozinho 20% do Produto Interno Bruto (PIB) de toda a África. As mazelas podem ser ilustradas pelos náufragos de embarcações clandestinas que insistem em levar milhares de imigrantes ilegais para a Europa. Parcerias Não foi por acaso que os emergentes mais emblemáticos representados pela sigla meramente teórica Bric —Brasil, Rússia, Índia e China — convidaram os sulafricanos para fazer parte do foro. O governo chinês, especialmente, quer deixar a África mais perto de seu planejamento estratégico. A segunda maior economia do mundo promove um esforço especial para conhecer melhor o continente número um de seus investimentos estrangeiros e mostrar-se parceiro. O Brasil, com menos bilhões de dólares à mão, apela para a vantagem relativa que tem, com profundos laços culturais e afetivos com a África. Um bom exemplo dessa investida à brasileira, que procura demarcar diferenças em relação à chinesa e não se resume apenas as grandes empreiteiras envolvidas com grandes obras de infraestrutura, está nos convênios acadêmicos com os países de língua portuguesa. Mês passado, o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o economista Clélio Campolina, desembarcou em São Tomé e Príncipe, para iniciar a instalação da primeira instituição universitária daquele arquipélago. “O governo brasileiro assumiu o compromisso de ajudá-los nesse objetivo”, disse. A missão delegada pelo ministro da educação, Aloísio Mercadante, dará à nação de 188 mil habitantes uma chance real de desenvolvimento. Lá são formados 70 mestres e doutores todos os anos. A meta é que a primeira universidade pública local, de matriz brasileira, quadruplique este número até 2021. Atualmente, o governo santomense gasta 46,8% de seus recursos com educação, sendo que 37,4% vão para bolsas de seus estudantes no exterior. O projeto tem o apoio da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), outra marca da política de boa vizinhança atlântica. Abertura de embaixadas e consulados, feiras de negócios e seminários compõe a abordagem brasileira para o continente africano, definida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cobiça internacional De atacante a alvo da cobiça internacional, o Brasil continua mostrando suas fragilidades cibernéticas. Especialistas em segurança de redes consideram fundamental o governo identificar logo qual foi a estratégia usada pelos espiões canadenses e norte-americanos para invadir o chamado “cofre de dados” no prédio da Esplanada dos Ministérios. O acesso pode ter sido obtido, na opinião deles, desde ligações estabelecidas por terceiros que entraram no local a até programas instalados por empresas contratadas e nas quais há “portas de saída”. A hipótese mais provável, contudo, é de uma “escalada de ataques”, nos quais diferentes níveis de barreiras foram sendo quebradas. “Os administradores públicos gastam muito com sistemas e equipamentos, mas esquecem do planejamento de risco”, observou Ivo Machado, especialista em proteção de dados e diretor da TrustSign. Fonte: Correio Braziliense - 14/10/2013

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