Dilma sortuda

Por Sílvio Ribas   A campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff corre com duas pernas: a do marketing total e a da sorte providencial. Com a receita dos especialistas em imagem e em análise de pesquisas de opinião, ela tem conseguido interpretar o papel ideal de candidata, ao gosto do eleitorado. Mas é com os regalos que vem recebendo do imponderável, sobretudo nas últimas semanas, que a chefe do Executivo tem conseguido transpor pedreiras colocadas pela economia. Exemplos? Os mercados emergentes, sobretudo os mais fragilizados na balança de pagamentos, como o Brasil, começaram este semestre gravemente ameaçados por uma reviravolta nos fluxos dos capitais especulativos, prestes a mudar o trajeto do Sul para o Norte. A melhora nos indicadores da economia norte-americana vinha sustentando o alerta de diretores do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve, o Fed) sobre a iminente suspensão dos estímulos com juro zero e emissões gigantescas de moeda, que se refestelavam em aplicações financeiras nesta parte do mundo. Mas o Fed decidiu manter a torneira aberta por mais algum tempo, dando alívio na escalada de valorização do dólar. Outro suspiro dado por Dilma e pelo ministro Guido Mantega veio do recente desfecho da crise orçamentária dos EUA, que arriscava levar o planeta para o seu abismo fiscal. A longa batalha política do presidente Barack Obama contra seus algozes republicanos ganhou uma trégua até o começo de 2014 e os investidores e o câmbio deram uma acalmada. O melhor saldo para o Planalto dessa confusão com a Casa Branca está, contudo, na constatação de que Obama terá de seguir empurrando um pouco mais a atividade econômica, por falta de terreno institucional seguro. A deusa Fortuna continuou sorrindo para a presidente brasileira e, na segunda-feira, a presenteou com um meio vexame no leilão da maior reserva conhecida do pré-sal, no qual, curiosamente, a falta de competição e de ágio redundou em boa-nova. O grupo que ficaria em segundo lugar perdeu as estrelas Total e Shell para o consórcio consagrado por Petrobras e duas estatais chinesas, tirando o verniz ideológico e exclusivamente bilateral do certame. De novo, o discurso encontrou o objeto e uma perna se apoiou na outra para dar o passo seguinte. Só falta agora a Seleção Brasileira ganhar a Copa em casa. Fonte: Correio Braziliense, 24 de outubro de 2013

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