Voz embargada

Por Sílvio Ribas A Justiça falha porque tarda. Em tempos de embargos infringentes nas manchetes de jornais e nas conversas de bar não é mais possível ignorar o fato de que o tal arcabouço jurisdicional precisa ser mudado. Leva-se tempo demais para que os juízes do Brasil decidam algo, certo ou errado. Desde a linguagem inutilmente empolada e prolixa até as mil formas usadas pela defesa de réus para alargar prazos e adiar sentenças, tudo desperdiça energia e paciência. A sociedade clama por um enxugamento dos infinitos recursos protelatórios e seus embargos "indigentes" para não ter a voz embargada pelas frustrações cotidianas nos tribunais. Ninguém pode ser contra o Estado de Direito e a ampla possibilidade de defesa de qualquer pessoa. Também não gosto da ideia de justiceiros de toga, atropelando decisões de pares e manuais do Judiciário. Mas o país não pode mais continuar sendo um fenômeno sociológico a deixar boquiabertos os estudiosos do Primeiro Mundo. Já estamos maduros o suficiente para separar o que é respeito às garantias individuais e o que é apenas o cipoal de regras para dificultar a efetividade da lei. Condenados à solta, inocentes encarcerados e toda uma sorte de abusos cometidos por magistrados em nome de ditames burocráticos levam à descrença de um poder que deveria ser o equilíbrio da convivência entre todos os brasileiros. Com a máxima vênia, peço uma reflexão. A Justiça do Brasil nos parece uma jovem senhora cega que enfrenta problemas de acessibilidade urbana. Ela até quer chegar ao destino no prazo razoável, mas não encontra quem a ajude a atravessar a rua, além de esbarrar em todo tipo de obstáculo. Quem enxerga a realidade e sofre com o peso das monumentais pilhas de papéis amarelados dos processos, que precisam de carrinho de supermercado para ir de um lugar ao outro, precisa soltar a voz. É hora de exigir celeridade, modernidade e objetividade nas questões legais, para acabar de vez com o risco jurídico para empresas e cidadãos. Entre ouvir as ruas e se debruçar nas firulas técnicas, o melhor seria medir o tempo. Ali dá para constatar a injustiça do aparato criado para prover justiça. Fonte: Correio Braziliense de hoje  

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