Efeito tostines, Lei de Gérson...

Por Sílvio Ribas Certas frases que soltamos nas conversas de trabalho confirmam a nossa idade. Aquilo que pode soar estranho ou muito datado para colegas das novas gerações também evidencia referências ricas e saborosas que os profissionais quarentões carregam na mente. Entre essas lembranças estão os conceitos resumidos por simples slogans de comerciais de tevê dos anos 1970 e 1980. A propaganda presenteou sem querer os analistas com motes para tecer profundas análises, algumas de elevada complexidade filosófica, que vão muito além da simples missão de ser a alma do negócio. Vamos relembrar? “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo de um bom cigarro?” Assim começa o texto do reclame do Vila Rica, de 1976, encenado pelo meio-campista Gérson, astro da Seleção tricampeã mundial que inspirou a conhecidíssima Lei de Gérson. Essa síntese do tal jeitinho brasileiro e da supremacia do interesse particular sobre o coletivo, argumentos presentes em tantos ensaios de sociologia, é tão repetida por aqui quanto a Lei de Murphy, segundo a qual, se algo pode dar errado, vai dar errado. O craque levou a fama de filósofo da malandragem nacional. Ele encerra a peça publicitária com um sorrisinho safado e a infeliz fala presente no imaginário popular: “Gosto de levar vantagem em tudo. Certo?”. Encravado na cultura de bar e na academia também ficou o dilema Tostines, que remete à propaganda do biscoito de mesmo nome: “Está sempre fresquinho porque vende mais ou vende mais porque está sempre fresquinho?”. A relação entre causa e efeito na qual os dois elementos invertem de posição vem sendo usada até para descrever situações curiosas da economia, quando o efeito de uma distorção já se confunde com os fatores geradores dela. Ainda nos anos 1980, outro anúncio televisivo serviu para descrever fenômenos econômicos. Apresentava dois homens, um bebendo vodca e o segundo, seu sósia, sóbrio e alinhado, que, ao final, respondia ao primeiro: “Eu sou você amanhã”. A ideia era informar que o destilado era bom o bastante para evitar a ressaca. Os economistas brasileiros, contudo, logo passaram a chamar de “efeito Orloff” os erros cometidos pela Argentina e, em seguida, repetidos pelo Brasil no combate da hiperinflação. Fonte: Correio Braziliense de 12 de setembro de 2013

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