Confiança é tudo

Por Sílvio Ribas
Disembarkation. A palavra que piscava no painel eletrônico das esteiras de bagagem do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistschek soava estranha. Mais do que isso, parecia o tradicional "enrolation" brasileiro para traduzir na marra termos em inglês para o português. Desconfiado como a maioria dos jornalistas — ainda mais sendo mineiro —, achei que houve algum desleixo do funcionário da Infraero responsável no caso, que merecia ser conferido e reportado. Mas bastou fazer uma rápida busca na internet momentos depois para revelar a minha ignorância sobre o termo e o sobre acerto da mensagem da gestão do terminal destinada a passageiros estrangeiros. Disembarkation é desembarque e não só o tradicional arrival, que informa sobre chegadas de aeronaves. Gastei essas linhas iniciais apenas para ilustrar o quanto é arriscado desconfiar de tudo, pois a fé nas pessoas e nas instituições é que faz a sociedade ser sociedade. O mesmo argumento serve para comprovar o quão é importante a confiança para as relacionais pessoais, comerciais e institucionais. Não é por acaso que no mundo atual, cada vez mais conectado digitalmente, empresas e políticos temam tanto as repercussões negativas em redes sociais envolvendo os seus nomes. Defender reputações virou tarefa mais complexa e estratégica. Se focarmos apenas as coisas mais simples do cotidiano, fica ainda mais claro quanto vale para uma autoridade e um empreendimento ser confiável. Por isso, não tem preço a certeza de que o ônibus passará no ponto mais ou menos na hora habitual, estar confiante de que o interruptor na parede sempre vai iluminar a sala e poder apostar que a sua correspondência chegará ao destino esperado no dia seguinte. São coisas em que temos prazer em acreditar na sua previsibilidade e cujo maior valor está justamente calcado nessa fé coletiva. Da mesma forma, depositar voto em urna é depositar crenças nas propostas de um candidato. Então, quando se ouve que um governo estuda mudar metodologias de pesquisas oficiais para melhorar o resultados da economia, o PIB pode subir mas a confiança, cair. A febre não muda se alterar o termômetro, brincava o inesquecível Joelmir Beting (1936-2013).

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