Debate: Jornalismo Econômico

Impressões retiradas do debate dia 15 de agosto de 2006, livraria Martins Fontes, Alameda Jaú, São Paulo (SP)

Participantes: Alexandre Calais, Sílvio Ribas, Silvia Araujo, Sérgio Vilas Boas, Maria Helena Tachinardi e Marcelo Mota, autores de Formação e Informação Econômica - Jornalismo para iniciados e leigos (Summus Editorial, 2006)

1) Os leitores se queixam, com razão, do excesso de números e jargões que ainda predominam nos textos de economia dos jornais impressos brasileiros. Muitos não conseguem entender o que está escrito e até desconfiam do total despreparo do jornalista.

2) Os jornais impressos precisam se reiventar. O ideal é deixar de competir com o meio eletrônico, sobretudo a internet, e dar menos espaço para o noticiário do dia e investir mais em análise e matérias exclusivas. O resto é enxugar gelo, publicar material velho (natimorto) e reproduzir modismos e material promocional.

3) Para efetivar as mudanças que o fazer jornalismo precisa, precisa mudar primeiro a linha editorial dos jornais. O investimento menor em reportagem, nas viagens e no encontro direto com a fonte está empobrecendo a cobertura jornalística em geral.

4) O mercado financeiro no Brasil tem, em relação aos problemas da cobertura e dos textos do jornalismo econômico, o agravante de ainda estar distanciado do grande público, que não é acostumado em investir em bolsas de valores.

5) A realidade da má formação dos novos profissionais está cada vez mais evidente.

6) O jornalista especializado em jornais impressos de grande circulação perdeu espaço na cobertura diária para os canais especializados de notícias, geralmente voltados para públicos de interesse restrito, como agronegócios, investidores no mercado de ações, indústria automotiva, mercado publicitário etc. Escrever para a fonte é um risco.

7) A área de comércio exterior é uma das que tem elevado nível de especialização no jornalismo internacional, o que não ocorre no Brasil. Além disso, os jornais brasileiros estão deixando de publicar notícias exclusivas que dêem conta dos reais interesses do país. Exemplos? O que os acordos comerciais já firmados entre os Estados Unidos e a América Latina já representam de perda para as futuras exportações do Brasil. Existem mais acordos comerciais no mundo que países, mas preferimos cobrir os embates com os EUA como Fla-Flu.

8) Os jornais de economia com maior experiência fazem, no geral, um mea culpa: poderiam ter pensado mais no leitor comum e escrito de maneira a atingir um público maior. Em suma: poderiam ser não apenas bons jornalistas, mas também comunicadores.

9) Toda história de empresas/negócios e empresários/executivos deveria mostrar prós e contras. Se ouvir a concorrência ou investigar mais os arquivos, o repórter pode descobrir que o perfil nunca é 100% bom ou ruim. A cobertura de empresas não deve favorecer a construção de mitos. Histórias de perdedores também podem ser interessantes.

10) A economia faz parte da vida de todos. Isso precisa ficar claro para jornalistas e leitores. Assim, se deve usar palavras de compreensão mais geral, ilustrar com exemplos mais facilmente reconhecidos e usar mais personagens da vida real.

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