Olho mágico ignorado

O flagra novelesco é um patrimônio nacional. Estamos em 2010 e o gênero novela é o auge da TV brasileira desde o seu começo, em 1950. São seis décadas de soap opera made in Brazil, considerada a melhor do mundo. Foram gênios aplaudidos pelo maior público nacional, como Dias Gomes e Janete Clair. Produto de exportação, fonte de inspiração para comportamentos e debates na sociedade, as novelas estão longe de morrer. Se reinventam, se modernizam, mas são a mania nacional nos horários nobres e menos nobres. O que me intriga é o recurso básico da teledramaturgia, aparentemente imutável. Apesar da agilidade das comunicações modernas, a ficção insiste em algo que a vida real só traz hoje como acidente. O flagra da conversa alheia. A paternidade de alguém ou a traição conjugal de outro são descobertos por um terceiro que ouve a conversa de outros dois. A trilha sonora cria o drama, os closes mostram as reações dos envolvidos e um mote é criado para o capítulo seguinte. Mesmo com tanto e-mail e celular, as pessoas estão sempre indo às casas umas das outras para falar algo pessoalmente. Mais flagras, revelações e motes para o capítulo seguinte. Outra coisa que me impressiona e já falei muito em mesa de bar: cadê o olho mágico? Os personagens estão toda hora abrindo a porta sem saber para quem. O porteiro deixa subir e a porta destrancada é aberta sem cerimônia e "tchan", apareceu a margarida. "Preciso falar com você..." é uma das falas preferidas. Créditos e comercial. A telenovela brasileira é hoje um produto de exportação para mais de 100 países.

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