Sujismundo em Inimutaba

Lembro do simpático Sujismundo não pelos comerciais da tevê, mas pela sua imagem pintada nos cestos de lixo da Praça Central de Inimutaba, cidade vizinha de minha Curvelo (MG), aonde íamos com a família tomar sorvete ou visitar um açougueiro amigo de meu pai.

Criado em 1971 pelo publicitário Ruy Perotti Barbosa para uma campanha do Ministério da Saúde voltada à limpeza urbana, o personagem não tomava banho, vivia rodeado de mosquitos e tinha o mau hábito de jogar papel na rua. Com o slogan “Povo desenvolvido é povo limpo”, ele servia como exemplo de comportamento a ser condenado. Acho que também tinha uma mensagem do tipo “cidade limpa é a que se suja menos”.

Exibido em comerciais animados de 60 segundos, entre 1971 e 1972, Sujismundo tornou-se tão popular que acabou gerando dúvidas sobre a sua eficiência. Sua irresistível simpatia parecia incentivar a sujeira ao invés de combatê-la, diziam alguns. Outro caso semelhante foi o da baratinha do Rodox, com muita gente solidária na agonia embriagada dela (“me lasquei todinha!”, suas palavras finais).

O garoto-propaganda ficou tão íntimo do público que muitos bebês nascidos naquela época ganharam o seu nome. Pesquisas posteriores mostraram que todo mundo simpatizava com o Sujismundo, mas ninguém queria ser como ele. Serviu até para rotular colegas, conhecidos, familiares e até autoridades de porcalhões constantes. Eram vistos como pessoas que sujavam as ruas por vontade própria, como uma questão de falta de educação.

Houve ainda processos por danos morais abertos por vários Sigismundo (com i e g) no Brasil, alegando serem alvo de piadas. O mesmo ocorreu com a campanha do Braúlio, pelo uso da camisinha, que não resistiu no ar nem mais de um mês. Como símbolo contra o acúmulo do lixo, cumpriu plenamente a sua missão, sendo lembrado até hoje com saudades pela geração do seu tempo.

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