Depoimento sobre Passos Nus
Por Virgínia Boa Morte, jornalista
Sílvio, lendo seu livro, voltei aos bons tempos de minha infância e adolescência em Curvelo e até compartilhei alguns momentos com você, relembrando pessoas e fatos comuns em nossa cidade.
Época em que a preocupação maior era saber qual filme ia
passar no sábado nos cines Virgínia ou Marabá, se o Caiçara ia jogar na Praça
de Esportes, quais seriam as atrações da exposição agropecuária, qual orquestra
tocaria no Curvelo Clube, e aí por diante.
E diante de seus textos rememorei fatos com tamanha nitidez
que parecia um filme. A Rua Joaquim Felício, onde morei, era uma poeira só. No
tempo das chuvas, nossa brincadeira era fazer guerra de barro e muitas vezes
levamos uma boa surra por entrar em casa com os pés sujos e a roupa molhada.
Outro passatempo era assistir à passagem das vacas brabas, que
Jason Oliveira levava para o matadouro. Passei muito aperto escondendo delas!
E como não lembrar das barraquinhas de São Geraldo, Santo
Antônio e Santa Rita. A felicidade e a curiosidade de receber os bilhetes do
Correio Elegante! Ah, como deu vontade de comer o arroz com galinha da Cecília
Frutuoso, o vatapá de tia Ruth, o bolo de aniversário de Lourdes Canabrava e os
docinhos de Ana Angelica.
As épocas das mangas e jabuticabas eram as mais esperadas. Na
minha casa tinha um pé de jabuticaba e brinquei muito em seus galhos.
Lembrei também de uma cena muito comovente entre Márcio e
Conrado. O homem dos Passos Nus chorou como criança ao abraçar meu tio, que já
estava vivendo seus últimos dias de vida.
Quero te agradecer, Sílvio, por voltar a ser criança
despreocupada e feliz. Por reviver “um tempinho bom”. Grande abraço.
Virgínia
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