Postagens

Mostrando postagens de 2020

Jato da Mulher-Maravilha: nada a ver

Imagem
Sílvio Ribas É um pássaro? É um avião? É  o Superman? Não. É a mais absurda máquina voadora das histórias em quadrinhos. O avião invisível da Mulher Maravilha, também chamado de jato invisível, sempre deu asas à imaginação de fãs e roteiristas da primeira e maior super-heroína, nascida nos gibis em dezembro de 1941 (All Star Comics 8). O polêmico aparelho fez seu vôo inaugural rumo à posteridade (e às piadas e paródias) nas páginas do primeiro número da revista Sensation Comics, apenas um mês depois do surgimento da sua dona, a única a pilotá-lo. Ao longo de seis décadas, essa máquina maravilhosa ganhou diferentes formatos e inspirou ainda as mais narrativas explicações sobre sua origem. Em alguns períodos, o invisible plane (seu nome original, em inglês) chegou simplesmente a desaparecer por completo e não apenas aos olhos dos personagens da DC Comics. Conforme a versão atual, a princesa Diana criada por William Moulton Marston passou a dispor da capacidade de voar, a exemplo de o...

O coelho da lua

Imagem
Co nf esso que não conhecia ou não me lembrava da associação da figura do coelho nas somb ras silhuetas sobre o lado visível e iluminado  do solo lunar. Estava pesquisando sobre os encantos da lua cheia, expressivos nos últimos dias, e me veio a informação sobre Tsuki-no-Usagi (O Coelho na Lua), a lenda japonesa do alvo, fofo e orelhudo morador de nosso satélite natural que passa os dias macerando arroz no pilão para fazer o bolinho mochi, muito popular entre os japoneses.  Essa iguaria branca e redonda lembra a lua cheia e é consumida sobretudo nos festivais e nas festas de Ano-Novo (Shogatsu), além de ser oferecida aos kamis (deuses) em altares xintoístas. O Coelho da Lua aparece em outras lendas seculares mundo afora, de variadas civilizações e com várias versões, todas encantadoras. Na Terra do Sol Nascente, o conto foi publicado no período Heian (784-1192 DC) sob o título Konjaku Monogatarishuu (Antologia de Contos do Passado), que contém histórias da China, Japão, Coreia...

A ciência da sorte

Imagem
  Sílvio Ribas Sorte é apenas sorte. Não tem nenhuma lógica interna. Qualquer forma de tentar explicá-la ou dominá-la seria apenas um mero devaneio, acredita a quase unanimidade dos cientistas. Mas há ainda quem queira encontrar respostas “científicas” para a pergunta de até centenas de milhões de reais: como fazer para ganhar o jogo de azar? As respostas que continua m sendo mais dadas até hoje é, na maioria das vezes, as providas pelo misticismo ou pela superstição, com a busca por amuletos, simpatias e esforço por adivinhações sobrenaturais. São apenas questões de crença, que nada têm a ver com a razão objetiva e a ciência. No caso da Mega-Sena, maior e mais popular prêmio de loterias do Brasil, estatísticos e matemáticos conseguem apenas nos informar sobre os níveis de dificuldade para acertar sequências sorteadas, usando para isso as leis da probabilidade como ferramenta. A sorte grande numa aposta mais simples de seis números tem a chance de um para 51 milhões e, ainda ...

O legado da Abril nos quadrinhos

Imagem
Sílvio Ribas Cebolinha, Mickey Mouse, Pato Donald, Batman, Morcego Verde e uma longa lista de personagens famosos das histórias em quadrinhos (HQs) chegaram aos corações dos brasileiros por intermédio da Abril. Por sete décadas, a editora liderou o mercado de gibis do país, responsável por publicar o material das gigantes franquias americanas Disney, DC e Marvel, além do universo criado por Maurício de Sousa. Essa história, repleta de ousadia e fatos polêmicos, está, finalmente, muito bem contada em livro. O recém-lançado “Império dos Gibis: A Incrível História dos Quadrinhos da Editora Abril” (Heroica, 2020), dos jornalistas Manoel de Souza e Maurício Muniz, levou 18 meses de pesquisas, com exame de mais de 300 periódicos e documentos, dezenas de horas de entrevistas com 46 figuras-chave na história da Abril e a leitura de mais de 2 mil HQs lançadas pela editora desde 1950. O resultado são 544 páginas com valioso registro para estudiosos e fãs e detalhado painel das etapas do mercado ...

Dois por um real

Imagem
Sílvio Ribas Um gesto antes de um simples enunciado pintou com cores pesadas uma cena com a qual eu convivia milhões de vezes nos cruzamentos  das ruas paulistanas. Um menininho bem pequeno e bem vestido me ofereceu na janela do carro dois tubos de guloseimas “por um real”. Cato moedas, acompanhado pelos olhos e pela voz dele (contando) até somar o preço pedido. Despejo o dinheiro na mãozinha dele e dispenso o produto comprado. Ele insiste. Falo pra deixar pra lá, vender de novo. Aí ele vem nervoso soltando uma frase cortante: “Vai. Pega logo, tio, pra acabar mais cedo”. Peguei. Senti-me frágil, quis chorar  de remorso ao tomar ciência ali entre duas vias de Pinheiros o que ocorria debaixo dos narizes de milhões e sob o gritante silêncio do Estado que não faz o que deve fazer. Criança na rua, explorada. Infância desperdiçada, futuro comprometido. Pais opressores, país desnaturado e tudo o mais que sabemos e deixamos pra lá. E cadê o meu humanismo, minha cultura cristã,...

O poop é pop!

Imagem
Sílvio Ribas Ei,  quem fez caca? Que m* é essa! Mas que b*! Ora, seu estrume! Oh, Shit! Agressões verbais como essas, que recorrem às muitas alcunhas da coisa mais abjeta para os humanos, seja lá qual for sua origem ou cultura, estão mais comuns do que nunca. Na verdade, o velho número dois não está só mais aceito. Agora, muito além dos xingamentos e das piadas escatológicas, o cocô virou artigo cult e até chega a ser entronizado pela cultura de massa. Em matéria de asco individual e coletivo, fezes sempre foram unanimidade individual e universal. Mas como símbolo e personagem, em várias cores e acepções (assépticas ou não), elas se tornaram fonte de crescente lucro para a indústria do entretenimento. Estranhos tempos esses que colocam a excrescência em essência no posto de destaque jamais experimentado.    Parênteses: Roberto Carlos não vestia marrom por puro preconceito? O que era visto apenas no besteirol cinematográfico, com graça e nojo, se transformou em simpáticos ...

O baião dos Beatles

Imagem
Sílvio Ribas Sempre existiram fake news, ou seja, notícias falsas. Mas poucos são os grandes boatos que produziram mais efeitos positivos que negativos. O melhor desses casos foi, sem dúvida, quando, em 1968, espalhou-se pelo país a boa nova de que os Beatles iriam gravar Asa Branca, consagrada canção do mestre pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989), o Rei do Baião. O grupo musical mais popular da história estava, de fato, numa fase de experimentalismo acentuado, tendo lançado o revolucionário álbum duplo Sargent Pepper’s Lonely Heart Club Band no ano anterior. Daí porque ganhou verossimilhança a lorota segundo a qual o famoso quarteto inglês estaria debruçado numa versão para o hino nacional do Nordeste brasileiro. Especulações de que a obra-prima de Gonzagão sairia no chamado Álbum Branco foram registradas pelo jornal O Estado de S. Paulo , em 21 de agosto do ano que não terminou. Dizia-se que o brasileiro levaria um adiantamento de US$ 50 mil, uma bolada naquela época,...

Adorável trapalhão francês

Imagem
Sílvio Ribas A comédia que atraía a gurizada para as salas de cinemas nos anos 1970 e 1980 não se limitava a Os Trapalhões. Além de Mazzaropi, ainda tínhamos as divertidas aventuras de Louis de Funés, maior comediante francês de todos os tempos. Enquanto Jerry Lewis reinava nos papeis cômicos televisionados, os que víamos só na telona davam o trono ao gaulês. Protagonista de várias produções, o ator tinha no sargento Ludovic Cruchot, o policial militar bagunceiro do balneário de Saint Tropez, seu personagem mais conhecido, que brilhou em série cinematográfica própria de sucesso internacional. O gendarme, ao lado do chefe Jérôme Gerber, interpretado por Michel Galabru, fazia gargalharem até as poltronas do Cine Virgínia, em Curvelo, lá no meu sertão de Minas. Dos longas estrelados por Funès que assisti na minha feliz infância, lembro com mais carinho de O Gendarme e Os Extra-Terrestres (1979), no qual ele e seus companheiros de armas combatem alienígenas que se misturava...

De Mimi a Michelle

Imagem
Sílvio Ribas Separadas por intervalo de quase 50 anos, elas usufruíram – cada uma à sua época – de quartos na Casa Branca reservados a jovens presidentes dos Estados Unidos, líderes eleitos pelo Partido Democrata e detentores de um magnetismo global. Tais semelhanças são, contudo, as únicas percebidas nas trajetórias das americanas Mimi Alford, estagiária e amante de John Fitzgerald Kennedy, e Michelle Obama, a carismática esposa de Barack. Essas mulheres descrevem retratos perfeitos de dois momentos da História no mais poderoso país do planeta. Confrontados, seus perfis e biografias revelam o prólogo e o estágio mais recente de uma revolução de costumes ainda em curso. Por cerca de meio século, longevas batalhas por igualdade de oportunidades para gêneros e raças colecionaram importantes vitórias. Mesmo tendo como pano de fundo comum a Presidência de dois influentes e inspiradores políticos, os livros de Mimi e Michelle, respectivamente Era uma Vez um Segredo (2012) e ...

A gestação dos Beatles na Alemanha

Imagem
Sílvio Ribas Die Beatles für immer! Há um aspecto muito relevante da trajetória dos quatro mais influentes nomes da música mundial em todos os tempos ainda pouco explorado: a Alemanha. A exemplo dos estágios de estudantes no exterior, a rica experiência de Paul McCartney, John Lennon e George Harrison em Hamburgo abriu a eles horizontes pessoais e profissionais. Na cidade, lançaram o primeiro álbum, com participação de Tony Sheridan. A primeira temporada na cidade portuária do nordeste alemão dos então cinco integrantes dos Beatles, iniciada em 17 de agosto de 1960, os fez experimentar culturas e sensações que moldaram a lenda. Além disso, as performances de oito horas da recém-nascida banda britânica em clubes noturnos – Indra, Top Ten e Kaiserkeller – por até oito dias seguidos impôs aos garotos treino intensivo, refinando habilidades com instrumentos. A convivência em solo estrangeiro também ajudou a fortalecer o grupo vestido de jaquetas de couro. Os amigos locais c...

O nó górdio do cadarço

Imagem
Sílvio Ribas As tardes de verão na minha pequena Curvelo, no sertão mineiro, eram um caloroso convite para a garotada bater bola em becos, quintais e terrenos baldios. Naqueles longínquos anos 1970 e 1980, saíamos apressados de casa ou da escola para ocupar cada um desses espaços, sempre embalados por uma energia inesgotável e com os pés revestidos com os nossos indefectíveis Kichutes. A peça comum do traje dos atletas informais não era bem um tênis e muito menos uma chuteira. Na verdade, era o híbrido desses dois tipos de calçado esportivo, combinados em um caprichoso dois-em-um que podia ser usado tanto no ambiente escolar quanto nas muitas peladas cidade afora. O modelo feito de lona e borracha pela Alpargatas era de longe o mais popular, um objeto de desejo unânime dos garotos. Com travas emborrachadas, o modelo vendido na televisão pelo garoto-propaganda Zico era versátil e muito mais barato que o calçado oficial do futebol de campo e logo se tornou uma mania entre...

Nanako, uma fábula japonesa

Imagem
Sílvio Ribas Era uma vez um humilde pescador de uma província distante, que morava numa casinha de madeira de um pequeno vilarejo perdido no meio de um vale esquecido há séculos. O pescador e a sua mulher tinham seis filhas. O desejado filho só veio bem tarde, depois do nascimento das meninas. Mas a corrente agitada do rio o levou depois de o barco bater numa pedra e se virar. O menino não sabia nadar. O homem que vivia da pesca e para a família ficou muito triste com a perda do caçula e também porque sua mulher não mais podia dar a luz. Apesar do consolo da esposa e das seis filhas, o pescador não suportava tanta dor e foi lutar sozinho contra ela numa cabana de palha na margem do mesmo rio que afogou depressa o seu coração. Logo na primeira das incrivelmente estreladas três noites de seu silencioso refúgio, aquele magro e curvado velho chorou, chorou e chorou. Na terceira noite pôs então os pés nas águas frias do rio e decidiu fazer companhia ao filho nas pro...

Teremos um "baby-boom" pós-Covid?

Imagem
Sílvio Ribas A quase unanimidade dos analistas classificou a crise mundial gerada pelo maldito vírus de maior catástrofe humana desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Na sequência, não faltaram relatórios pessimistas sobre o efeito devastador da pandemia sobre vários negócios, de todos os portes, com a perspectiva de um tsunami global de falências e desempregados. Passados seis meses dessa batalha intercontinental, agora mais concentrada nas Américas, vemos medo e esperança dançarem de rosto colado no salão, em meio a graves incertezas. Milhões de postos de trabalho foram para o espaço junto com a X-Space e milhares de empresas fecharam as portas. Mas também é fato que já há razões para crer na recuperação em V, aquela que bate no fundo e volta a subir em seguida, aqui e em outros países. Essa percepção se deve ao fato de que a economia não é uma ciência exata e seu desempenho está calçado não apenas na disponibilidade de recursos livres, poder de consumo e mão-de-obra ...

Algum setor ganhou com a Covid-19?

Imagem
Sílvio Ribas O mundo que está sendo moldado ao longo da cruel pandemia da Covid-19 sairá dela embicado para um cenário amalgamado de Black Mirror e Matrix, em meio ao resgate de promessas perdidas desde o estouro da Bolha da Internet. Mas os destroços deixados pela crise maior crise econômica desde 1929 formarão uma montanha de incertezas por ser removida até que se consiga enxergar o próximo horizonte. Os poucos negócios globais que já conseguiram prosperar neste amargo período – comércio eletrônico, serviços de streaming e empresas de delivery – são beneficiários óbvios do isolamento social. Bilhões de pessoas estão usando mais a internet para comprar, o que amplia o faturamento das empresas enfronhadas nesse meio. Apesar disso, os custos de operações, inclusive de marcas online, pioraram. O novo coronavírus colocou todos países de joelhos e o confinamento em massa abriu uma oportunidade única para quem ganha com clientela remota e entrega em domicílio. Mas dados da Ama...

Volta controlada à normalidade

Imagem
Sílvio Ribas Teremos em maio o início da volta à normalidade nas rotinas de trabalho, de estudo e de várias outras atividades seriamente prejudicadas pelo novo coronavírus. Após duro sacrifício, plenamente justificado pela inédita e emergencial situação criada pela pandemia, podemos, enfim, enxergar a luz no fim do túnel. O desafio é fazer com esse retorno seja seguro para a saúde pública e ainda em tempo de impedir estragos extras à economia. Foi então com esperança que recebi a notícia do plano apresentado pelo governador Eduardo Leite para reabrir o comércio e a indústria em parte do estado, prorrogando até 30 de abril as medidas de restrição no geral à circulação de pessoas. Agora, de forma controlada e ancorada em pesquisa de projeção da população infectada, municípios sem casos registrados ou com a situação sob controle puderam ter as vedações aliviadas. Com exceção da Região Metropolitana de Porto Alegre, onde está a maioria dos infectados, os prefeitos das demais cidades...

As seis alças do caixão

Imagem
Sílvio Ribas O título deste texto soa mórbido, admito. Mas a minha intenção aqui é falar justamente do contrário da morte, quero enaltecer a vida, a alegria de viver e a importância de cultivarmos bons relacionamentos ao longo da nossa breve existência. Quero enfocar os maravilhosos amores correspondido dos amigos, familiares e demais inquilinos do nosso coração, conquistados ao longo do período em que respiramos. O convívio social, o pertencimento a uma comunidade e o aconchego do lar desfrutado junto com entes queridos são indubitavelmente o melhor que a trajetória vital nos proporciona. Personagens e momentos extraídos dessas experiências e que nos foram e continuam valiosas são tudo o que vale à pena levar para a eternidade. É daí que veio a minha motivação para lembrar da imagem das seis alças do vindouro caixão. São essas peças que me assaltam hoje com uma pergunta a martelar minha mente. Quais seriam as pessoas que me terão no pensamento e ficarão realmente pesarosa...

Amor de Rosa por Minas

Imagem
Sílvio Ribas Em texto publicado em 25 de agosto de 1957, na revista O Cruzeiro, João Guimarães Rosa faz uma belíssima declaração de amor a Minas Gerais, seu estado natal e palco principal da sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, o romance mais importante da literatura brasileira. Minas Gerais por João Guimarães Rosa Minas é a montanha, montanhas, o espaço erguido, a constante emergência, a verticalidade esconsa, o esforço estático; a suspensa região — que se escala. Atrás de muralhas, caminhos retorcidos, ela começa, como um desafio de serenidade. Aguarda-nos amparada, dada em neblinas, coroada de frimas, aspada de epítetos: Alterosas, Estado montanhês, Estado mediterrâneo, Centro, Chave da Abóbada, Suíça brasileira, Coração do Brasil, Capitania do Ouro, a Heroica Província, Formosa Província. O quanto que envaidece e intranquiliza, entidade tão vasta, feita de celebridade e lucidez, de cordilheira e História. De que jeito dizê-la? MINAS: patriazinha. Minas — a gente ol...