O poop é pop!
O
que era visto apenas no besteirol cinematográfico, com graça e nojo, se
transformou em simpáticos emojis de celular e personagem infantil, com
direito a música tema. O fedido dos fedidos não serve apenas como inspiração
cômica de objetos vendidos em bancas para pregar peças em desavisados. Ele
chegou ao ápice ao decorar festinhas de aniversário e ao se converter em candies e brinquedos de meninas. O poop é pop!
Dejetos
estilizados estão estampados sem pudor em caderno escolar, imã de geladeira,
chaveirinhos, mochilas, almofadas e itens para escritórios. O mais repulsivo
dos subprodutos humanos virou fantasia de Halloween, decora camisetas e diverte
usuários em canais de internet. Qual a razão de essa liberalidade tosca ter
prosperado tanto? Falta de inspiração? Perda de paradigmas estéticos mínimos?
O
que afinal esses empreendedores tão ousados e criativos têm na cabeça? Não, não
é uma resposta óbvia.
Acredito
que a glória do number two (#2), como dizem os americanos, é a expressão
da derrocada final das barreiras ao consumo globalizado. Ouvi que a presença do
elemento de desprezo atávico no reino da diversão é a busca para encaramos
nossas imperfeições como seres dotados de tubo digestivo. Lembrei dos donos de empresa
do ramo de limpeza de fossas de Beagá que a batizaram de Rola B*, a despeito de
narizes torcidos.
A
outrora porcaria-mor rola livre, leve e solta em telas, vitrines, ciberespaços e, quem sabe, no ventilador. Poderia até
ser garoto propaganda de papel higiênico, rivalizando com o popular Capitão
Cueca, personagem que sempre traz nas suas histórias alguma brincadeira alusiva
a elementos e a sons vindos de toaletes. Bem, ele só faz coro às bobices
próprias das crianças de cinco a 10 anos, mas ganhou o status de bestseller nos
seus livros e de superprodução na telinha e telona.
As
farmácias, por exemplo, vendem a visitantes de lares produto para tirar o vergonhoso
odor deixado no vaso sanitário do visitado logo após de usá-lo. O FreeCo primeiro
bloqueador de fedores sanitários de bolso do Brasil, promete tirar o mau odor
após ser borrifado cinco vezes na privada e livrar o usuário de constrangimentos.
Antes, ouvi falar de perfumes para beber, destinados a proporcionar depois igual
efeito em defecações e diarreias.
Ir
ao WC e, ao mesmo tempo, aglomerar (não evacuar a área) é a obsessão do outro
lado do mundo. Prova disso está no sucesso da Modern Toilet, rede de
restaurantes cujo tema exclusivo é banheiro. Com sede em Taiwan e filiais em
toda a Ásia, a franquia tem sanitários no lugar de cadeiras, pratos servidos em
pinicos e mini privadas.
O
dono Wang Tzi-Wei investiu na ideia após registrar vendas recordes de redemoinhos
de sorvete de chocolate em vasinhos de papel. Sua sorveteria foi inspirada no
robô Arale, do anime japonês Dr. Slump, que adorava cutucar e brincar com um
fofo cocô rosa.
Os
sul-coreanos, por sua vez, não conseguem esconder sua fissura por cocô. Desde
cookies a telefones em formas alusivas a ele até um museu na capital Seul unicamente
dedicado a excrementos. As crianças desenham o coiso na escola sem qualquer
reprimenda ou estigma.
Para
completar, sanitários em todo o país, domésticos ou públicos, trazem descargas
com sons legais, trilha sonora ao fundo e o download de água colorida. Cool! Bem
diferente do desprazer nosso ao chegar a WC de rodoviária ou de beira de
estrada.
Do
universo infantil, lembro do próprio cocô cantando uma musiquinha de protesto
contra o antigo e persistente preconceito que sofre, num quadro do programa
Co-Co-Ri-Có, da TV Cultura. Mais bonitinho que ele só as várias versões dos dejetos
multicoloridos e brilhosos de unicórnio, de Poopsie e outros.
Não
acredito que estou dizendo isso. Onde está a nossa velha e boa repugnância?
Bem, mas engraçada é mesmo a propaganda da Candide para o seu carrinho KK Móvel,
com controle remoto: “O brinquedo número 2 no mundo! Persiga
seus amigos com um cocô que corre, gira e solta pum! Essa brincadeira vai feder! Que tal uma corrida de cocô?”.
É
tudo estranho e divertido porque nem gostava do hoje clássico e vintage cocô
falso, vendido em barraquinha de quermesse e usado em pegadinhas.
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