Meteorito pousado na cozinha

Na cozinha espaçosa – do tamanho de um salão de baile – da augusta figura de Arminda Marques havia uma pedra. Uma pedra incomum, preta, lisa e ovalada, do tamanho de um pão de sal, que servia para escorar a porta do quintal.

A peça lustrosa pesava uns seis quilos. Para uns, ela era puro chumbo encardido. Para outros, uma pepita grande de ferro lapidada. Mas na verdade ela era a ovelha negra das rochas tiradas do leito do ribeirão da mata.

Pescada das águas meio esverdeadas, a pedrona veio parar como ornamento em um casarão da pequena e sertaneja Curvelo (MG). Era grande demais para servir de peso de papeis e, por isso, acabou virando um curioso calço da porta antes do fogão a lenha.

Eis que, numa bela e quente tarde, aparece um especialista que se hospedou na casa de Minda, como a chamávamos carinhosamente. Ele se deparou com aquele objeto ao acaso e logo o chamou de tesouro. É um meteorito! Gritou o velho de terno de linho cáqui e gravata borboleta.

Brilhosa, bonita, mas longe de ser um ouro preto. Ora exposta em mesa ou rodando no chão, ela nunca havia levantado a desconfiança de alguém de que se tratava de uma rocha espacial.

Aquele presente dos céus, mensageiro da galáxia, caiu meteorito e virou pedra de rio, onde fora lapidada por longuíssimo período, bem antes de o Brasil existir como Brasil. Dali emergiu como mimo de dona de casa. Desde então, a pedra foi encontrada e utilizada como um objeto comum até a descoberta de sua origem extraterrestre.

A pedido, o professor visitante acidental tirou uma lasquinha do corpo natural para fazer análises físicas, químicas e geológicas em laboratório da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Lá foi certificada como meteoro nanico, um meteorito metálico composto basicamente de ferro e níquel, com pitadas de outros materiais em menor concentração. Seria a astronomia rimando com gastronomia?

Dizia o laudo que a pedra da cozinha pode ter vindo de um protoplaneta destruído por violento impacto há 4,5 bilhões de anos, ainda no período de formação do Sistema Solar. Desde então, cruzou o espaço até chegar à Terra. 

Pela deterioração com o tempo, essa chegada teria ocorrido há alguns milhares de anos. Nas últimas décadas, sofreu apenas a ação da mão de curiosos e das topadas de pé de desavisados.  

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