Nostalgia futura


Dua Lipa, diva inglesa que se apresentou este mês no Rio e em São Paulo, tem só 27 anos e está no auge de uma carreira ainda promissora. A cantora de inegável talento despertou a minha atenção pelo seu raro nome de origem albanesa e pelo fato de o seu maior fã ter quase o triplo da sua idade.

A paixão do americano Papa Richy, 80, revelada ao mundo em outubro de 2021 pelo TikTok, o levou a um encontro-surpresa com ela em março, armado pelo talk show de Jimmy Fallon, em Nova York. O entusiasmo do vovô ao dançar com a estrela significa mais do que um fofo encontro de gerações.

O vídeo de Richy comemorando o ingresso de presente para o show de Dua em Miami e a sua performance com ela nos estúdios da NBC revelam um público idoso que não tem vergonha de apreciar contemporaneidades artísticas e que não está preso à nostalgia. A animação dele é a pura expressão do propósito de seguir vivíssimo.

Num planeta onde as cabeças prateadas estão cada vez mais presentes, o mercado precisa acordar para os desejos e as necessidades dos “novos velhos”, os que ainda querem muito da vida e não se encaixam em cruéis estereótipos. A humanidade vive mais e melhor porque ela pode e quer.

Dua Lipa espelha os desafios da realidade dos novos tempos, acelerados na pandemia, na qual as aflições de indivíduos de trajetórias distintas cobram reavaliações e recomeços. Filha de refugiados, ela passou a adolescência no conturbado Kosovo e estourou nas paradas com New Rules (Novas Regras).

Outra metáfora que a artista me induz está no álbum Future Nostalgia (Nostalgia Futura), título de sua atual turnê mundial. Ele sugere que o incompreendido hoje pode ser o adorado de amanhã. “Sei que está louco de vontade de me entender”, diz trecho da canção-tema. Alvo de bullying online contra sua “coreografia preguiçosa”, Dua se diz madura para inovar.

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