A nova matriz política


Sílvio Ribas

Após as urnas do segundo turno se esfriarem e caso elas confirmem Jair Bolsonaro (PSL) como presidente eleito, deveremos ver a tentativa de se construir uma forma alternativa de se fazer política no país, sintonizada com o perfil do capitão reformado.

A partir de falas, atitudes e sinalizações feitas pelo candidato e pelos seus companheiros mais próximos ao longo da campanha até aqui, é de deduzir que estaríamos a caminho de uma relação mais personalizada e menos institucional entre os poderes Executivo e Legislativo. Nela, o chefe do Executivo buscaria costurar o entendimento com parlamentares, um a um, pessoal e diretamente, sem olhar a cor partidária.

Uma das sinalizações dessa inflexão, termo que Bolsonaro passou a usar com frequência, é o apoio que ele recebeu em bloco de bancadas temáticas e multipartidárias da Câmara dos Deputados: a Evangélica e a Ruralista, além da afinidade que tem com o grupo parlamentar a favor da revogação do estatuto do armamento, compondo então a sigla conhecida por BBB - de Bíblia, boi e bala. Outra mensagem nessa toada seria a que vem estampada na camiseta usada pelo presidenciável do PSL no dia do seu atentado em Juiz de Fora (MG): "Meu Partido é o Brasil".

Com os apoiadores explícitos filiados a legendas distintas da coligação PSL-PRTB, que reuniu na campanha, inclusive um coordenador político do DEM, o deputado Onyx Lorezoni (RS), virtual ministro da Casa Civil, e um senador do PR influente nas redes sociais, Magno Malta (ES), tudo insinua que o esforço de Bolsonaro será no sentido de enfraquecer os caciques das agremiações e formar maioria no plenário do Congresso Nacional sem demarcações por partidos ou blocos.

Em suas mais recentes entrevistas, disse que há gente honesta na maioria das legendas com assento no Parlamento, com a qual pode confiar e dialogar. E ressaltou que muitos líderes partidários têm atuado como meros “sindicalistas”. Não faltam analistas, como o ex-presidente FHC, que ressaltam a fragilidade dos partidos brasileiros.

Para quebrar a lógica viciada da barganha que tem dominado o chamado presidencialismo de coalizão, Bolsonaro parece querer jogar no campo da franqueza e objetividade, adiantando que a liberação de recursos ou as indicações para cargos estão, desde sempre, fora de cogitação. Seria, digamos, uma marcação homem a homem.

Em reforço, promete institucionalizar a obrigatoriedade de a União pagar automaticamente as emendas parlamentares ao Orçamento Federal. Simples assim. Com um ministério de perfil predominantemente militar e técnico, os poucos assessores políticos do presidente seriam os mais afinados e próximos no plano pessoal. Eis aí a nova matriz política, que terá muito pouco tempo para se mostrar funcional e eficaz. O futuro do país pode depender disso.

Comentários

Jorge F. Dos Santos disse…
Será uma guinada à direita. Um cavalo de pau arriscado, mas necessário. A esquerda está no poder há 25 anos e a economia estagnou. Rezo para que o novo governo mantenha-se nos trilhos democráticos. Que Deus nos ajude a sair desse buraco.