A soma dos cacos

Por Sílvio Ribas

O Brasil está quebrado. Chegamos ao segundo ano de uma retração econômica aguda, que empobrece sem dó a todos os bolsos e deixa mais distante o caminho da retomada do crescimento. E o mais triste disso tudo é saber que o país poderia ter evitado essa agonia toda se o setor público tivesse agido com o mínimo de responsabilidade com seus gastos.

Infelizmente, as motivações partidárias passaram por cima do interesse geral, da República e do bom senso. Restaram agora gigantescas pilhas de destroços muito difíceis de serem removidas. Esses escombros podem e devem servir de lição para governantes e contribuintes, no sentido de não mais deixar a euforia dos tempos de fartura nos desviar do essencial.

Só uma visão nova sobre como nortear as relações cotidianas entre estruturas públicas e interesses privados pode levar a roda da fortuna girar de novo sem perda de sustentabilidade. Tomara que tenha ficado bem claro para o cidadão comum que a angustiante coincidência de inflação alta e atividade produtiva em marcha à ré tem como causa central o colapso estatal.

A União, que abandonou em meados da década passada os pilares da estabilidade e inflou as próprias despesas correntes sem medir consequências, impôs a todo país o gosto amargo dos seus desequilíbrios. Os 10 milhões de desempregados e as dezenas de milhares de fábricas paradas não são vítimas do comércio internacional, mas do desgoverno do Estado brasileiro.

Todos sabem que um estouro de orçamento leva à falência qualquer um, seja país, empresa ou uma família. Simples assim. O atoleiro em que o Estado nos meteu – um ciclo vicioso no qual renda privada cai e governos perdem receitas – ganha ares desesperadores quando vimos a crise desaguar em juros escorchantes e assombroso salto na dívida pública. Para completar a tragédia, a lambança econômica rendeu ainda crise política também sem precedentes.

A devastação econômica que se instalou no Brasil em poucos anos – marcada pela insensibilidade profunda com a coisa pública, pela intervenção nas leis básicas de mercados e por toda sorte de infrações – está bem ilustrada na situação em que se encontra a maior empresa brasileira. A Petrobras, moída pela má gestão e pela roubalheira, impõe perdas a todo o país de maneiras diversas, desafiando até a expressão “grande demais para quebrar”.

Ainda sob os efeitos dolorosos desses tempos bicudos é que teremos de plantar a esperança e esperar pelo nascer de flores na terra arrasada. Depois de somar os cacos de hoje verificaremos um mercado ainda cobiçado em escala global. Mas é com transparência e senso de realidade que o terreno será limpo e as bases de prosperidade poderão ser erguidas. Aprender com a dor de hoje é fundamental para não sofrer tanto amanhã pelo erro tolerado. 

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