Tudo a ver com o Brasil

Por Sílvio Ribas As duas maiores economias do planeta — Estados Unidos e China — escolheram na semana passada seus líderes máximos para os próximos anos e os rumos que vão perseguir para enfrentar os graves desafios atuais. Juntas, respondem por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E são dos dois maiores parceiros comerciais do Brasil e da maioria dos demais países. Além do peso que essas locomotivas têm sobre o nível da atividade econômica global, seriamente abalada por incertezas, sobretudo as vindas da Zona do Euro, elas têm particular importância para a frágil retomada brasileira.
Acompanhar os resultados das urnas que consagraram o presidente reeleito Barack Obama e analisar os desdobramentos da eleição norte-americana para a economia mundial são essenciais para traçar previsões domésticas. Não menos importante é tentar enxergar o que a confirmação da escolha do futuro presidente Xi Jinping, recém-ungido pelo histórico 18º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), trará de novo para as perspectivas de recuperação global e para os exportadores brasileiros. Sem as volumosas importações dos dois mercados estratégicos, conhecidos por G-2, sobretudo as do gigante asiático, os pibinhos brasileiros do ano passado e o atual teriam dado lugar à recessão. A profunda dependência econômica entre Estados Unidos e China parece estar ficando menos expressiva que a crescente conexão entre Brasil e China, cujas relações comerciais experimentaram um salto nos últimos 10 anos, passando de pouco mais de US$ 2 bilhões em 2002 para mais de US$ 80 bilhões este ano. Não existe avanço equivalente na história do comércio internacional. Descontado o terrível fato de o perfil das trocas bilaterais ter se radicalizado, com exportações brasileiras cada vez mais concentradas em matérias-primas agrícolas e minerais, o cotidiano brasileiro depende das compras chinesas. Isso tudo sem falar da influência decisiva que o dragão exerce sobre praticamente todos os demais terceiros mercados da pauta brasileira. Na sucessão presidencial dos EUA está a esperança brasileira de uma reação mais sustentável da economia global, com uma torcida explícita do Planalto para que Obama desmonte logo o impasse no Congresso em torno do abismo fiscal previsto para janeiro. Também está no mercado norte-americano a chance segura de o país encontrar uma forma de agregar valor às suas exportações, considerando a possibilidade de vender máquinas e equipamentos. Xi Jinping, considerado mais aberto ao Ocidente do que o atual presidente chinês, Hu Jintao, sinaliza, com sua posse, em março, novas diretrizes à economia do país, cujo crescimento redesenha o mundo há quase duas décadas, e à global. As inquietações políticas e sociais correm por fora nessas discussões. A China prepara para trocar o modelo exportador por um mais voltado ao consumo interno, mão inversa das intenções da política econômica brasileira. Mudanças ousadas, complementadas por mais investimento em propriedade intelectual e internacionalização de suas empresas, que podem fazer toda a diferença para o Brasil. Fonte: Correio Braziliense - 11/11/2012

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