Fé no Estado

Por Sílvio Ribas Os governantes, como as pessoas em geral, são mais bem definidos pelos gestos que pelas palavras. A presidente Dilma Rousseff, que fala muito menos que o antecessor, o mito popular Luiz Inácio Lula da Silva, apenas agora, perto de completar metade do mandato presidencial, deixou completo o retrato como política, não precisando mais de especulações de especialistas para explicar as razões de ela agir. Com continuidade política, ao defender o grupo do qual faz parte desde 2003, a economista Dilma ousou só empreender viés pessoal no comando da economia. Graças à nova etapa da crise econômica mundial e a diagnóstico do Planalto bem mais realista se comparado ao da era Lula sobre as dificuldades de o Brasil crescer de forma sustentável, a presidente colocou em marcha o plano para destravar o país. Apesar da clarividência sobre a escassez de infraestrutura, sobre o peso dos impostos na produção e sobre o custo elevado do crédito, Dilma coloca na mão forte do Estado a missão de dotar o país de condições para enfrentar velhos desafios. Como ela discursou durante o lançamento do maior pacote de intervenção tarifária da história, envolvendo a conta de luz, seus 20 meses de gestão se dedicaram a executar ações para enfrentar ameaças conjunturais, como os solavancos financeiros do sistema financeiro global, e também estruturais, tentando acelerar a agenda de desoneração do custo Brasil, mais urgente do que nunca. Nesse momento, em reforço ao sinal dado pelos pacotes de concessões na área logística, parcialmente anunciados, o Plano Dilma ganhou a última peça do quebra-cabeças, revelando ferrenha convicção de que a iniciativa privada precisa participar com agilidade e recursos no esforço do progresso. Mas desde que atrelada a planejamento estrito do Estado. É posição mais feliz se comparada ao intervencionismo extremo de Argentina e Venezuela, mas não menos preocupante em torno dos riscos fiscais e competitivos de não abrir mais espaço para o capital privado. Além dos gestos, as palavras da presidente confirmam a fé absoluta na missão estatal. "Só existe uma economia, a economia política", disse Dilma durante recente homenagem à sua mestra Maria da Conceição Tavares. "Levar 40 milhões de cidadãos para a classe média não foi obra do mercado", rebateu ela em entrevista a revista estrangeira, quando perguntada se cedeu às privatizações. Fonte: Correio Braziliense - 27/09/2012

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