Homeless, sweet homless

Duas notícias relacionadas - uma internacional e outra local - chamaram a atenção nos últimos dias nos sites jornalísticos e redes sociais. São cômicas pela gafe dos seus protagonistas, mas igualmente trágicas pelo seu pano de fundo, envolvendo o flagelo dos moradores de rua. A secretária de Saúde da França, Nora Berra, pediu às pessoas mais vulneráveis - citando especificamente bebês, idosos, doentes e moradores de rua - que evitassem sair de casa, além de procurar usar roupas apropriadas. Momentos após divulgar o post no seu twitter, Nora recebeu uma avalanche de mensagens questionando como um mendigo morador de rua poderia "evitar sair de casa". Como se não bastasse isso, dias depois o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou uma inusitada prisão domiciliar a um morador de rua preso em outubro do ano passado sob a acusação de furto. Para piorar o caráter esdrúxulo dessa decisão, está a advertência acrescida à ela: o cidadão Nelson Renato da Luz pode ser preso a qualquer momento caso descumpra a decisão judicial de ficar em casa. Coincidências à parte, o mundo está precisando de mais reflexão sobre o crescente apartheid social. Não dá para não ver que está faltando solidariedade. Sabe-se também que a economia não é a causa de todo esse problema de população de rua, envolvendo brigas familiares, doenças psiquiátricas, alcoolismo, drogas etc.


O BICHO
Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Na era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

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