Tubarão na banheira


O Tubarão na Banheira narra uma aventura cómica de um rapaz, auxiliado pelo avô, em busca da felicidade do seu peixinho de aquário.
No início, o protagonista relata o que desencadeou toda a peripécia: «Ao contrário do que poderia pensar-se, a história do tubarão não começou na manhã em que o pescámos.» Não há mistério: esta é mesmo uma história sobre um tubarão que foi pescado e colocado numa banheira. Mas como?
Ora, como todas as boas histórias, esta também aconteceu um pouco por acaso. Um acidente inesperado proporciona uma descoberta que desencadeará uma aventura inverosímil e exagerada, e por isso divertida. O avô é a personagem inusitada que personifica ao extremo o comportamento da maioria dos avós: compreensivos e permissivos, são eles quem muitas vezes acompanha os netos em tropelias, confiando neles e distorcendo as fronteiras entre o que lhes é e não é permitido fazer.
Este avô começa por sentar-se em cima dos seus óculos, partindo-os de imediato. A certeza de ter um par suplementar algures leva-o ao sótão na companhia do neto, que alegremente se disponibiliza para o guiar, na sua quase cegueira temporária. As limitações físicas do mais velho não são um entrave para a criança que pelo contrário assume a sua nova condição como um agradável desafio. No sótão não encontram os óculos mas em contrapartida descobrem um aquário vazio que o rapaz deseja ver cheio de água com um peixinho dentro. Deparam-se então com o primeiro problema: encontrar um peixe para o aquário. O avô sugere que o vão pescar, no dia seguinte. E a partir daqui os momentos sucedem-se numa lógica causal que demonstra ao protagonista que as suas melhores intenções não se concretizarão. Em primeiro lugar a criança assume, pelo semblante do peixe, que este se sente sozinho. Depois convence o avô a pescar um amigo, que lhe faça companhia. É então que pescam o tubarão. A coexistência com o tubarão torna-se cada vez menos pacífica, até ao clímax narrativo: o menino acede ao conselho do avô e decide devolver o tubarão ao mar. Mas a história não acaba aqui. Uma surpresa inviesa definitivamente todos os planos da criança que, no auge da sua determinação, decide, com a cumplicidade do avô, recomeçar tudo de novo. O desenlace acontece quando o avô encontra finalmente o par de óculos. Aqui o leitor confirma que tudo foi possível devido à distorção óptica de que o idoso sofrera, e que não lhe permitira ter noção da realidade: «Bom, resta contar que, alguns dias mais tarde, o meu avô encontrou o par de óculos suplentes dentro de uma lata de bolachas na cozinha. Colocou-os na cara e de repente voltou a ver o mundo como o mundo é.(…)» O avô nunca se apercebera de que tinha ajudado a transportar e a cuidar de um tubarão, que para si se apresentava apenas como um peixe grande. (De Portugal)

Comentários