Enfoque transformado


Keynesianismo social, um novo conceito, formulado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF)

John Maynard Keynes foi um importante economista britânico. Em 1936, ele publicou "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", um livro em que pregava a necessidade da intervenção e da regulação do Estado na economia, uma tese que se contrapunha à doutrina liberal, que defende que o mercado tem regras para se regular por si mesmo. O auge das teorias liberais deixou as ideias de Keynes um pouco de lado.
Elas começaram a ser resgatadas agora após a crise econômica mundial, e são a base de algumas das ações que o presidente Barak Obama tem implementado nos Estados Unidos. Há dez anos, no livro "A Segunda Abolição", o senador Cristovam Buarque, em plena época de triunfo do liberalismo, pregava um retorno do keynesianismo com contornos sociais. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, as ações econômicas que contassem com a intervenção do Estado teriam de ter viés social, o trabalho dos pobres para os pobres. Cristovam está nos Estados Unidos, onde proferiu palestra sobre o Keynesianismo Social nas universidades de Harvard e Austin. Leia um trecho de "A Segunda Abolição" para entender melhor a ideia de Cristovam: "A partir dos anos 30, em seus momentos de crise, os países desenvolvidos utilizavam o método keynesiano de criar empregos improdutivos como forma de ampliar a demanda e, assim, dinamizar a produção estagnada dos bens de massa. Nos países em desenvolvimento, o keynesianismo chega sob a forma de criar empregos para novas indústrias locais produzirem os bens que substituírem as importações feitas pelos ricos.
(...)
Um dos maiores erros éticos de nossos economistas e dirigentes políticos, ao longo do século XX, com o desenvolvimentismo, foi a falsa promessa de que a pobreza seria erradicada graças ao emprego dos pobres na fabricação dos produtos para os ricos.
(...)
Não houve emprego para todos, nem salário suficiente. E os produtos não atendiam às necessidades sociais, não serviam para reduzir o quadro de pobreza da população. Os ricos passaram a ter produtos nacionais que, independentemente de crises cambiais, lhes permitiam imitar os ricos do mundo, e os pobres ficaram sem salários, sem empregos e sem os produtos de que necessitavam para saírem da pobreza: escola, saúde, moradia, água, saneamento, transporte público, segurança. A situação tende a se agravar com as características da economia do final do século, um avanço técnico que dispensa trabalho, uma produção que não exige demanda massificada, e uma liberalização das importações que dispensa produção local.
No Brasil, temos a chance de um keynesianismo produtivo e social: criar emprego para produzir diretamente a oferta de bens e serviços essenciais, ao mesmo tempo que se dinamiza a demanda dos produtos da economia em geral.(...) Um Keynesianismo social, onde o emprego dos pobres produza para os pobres. Onde a população seja empregada para fazer e manter escolas, construir sistemas de água e saneamento, melhorar o sistema público de transporte."
"Todas as crianças precisam ter a mesma chance. Elas não podem ser discriminadas só porque nasceram em uma cidade muito pequena ou porque os pais são pobres e vivem em uma área de periferia. Elas devem ter a chance de estudar em escolas que são iguais às melhores escolas do país. Todas as escolas devem ter o mesmo padrão. Todos os professores e professoras devem ser formados(as) em universidades e cursos com a mesma qualidade. Isso é possível. Se você vai em uma agência do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal, em qualquer cidade do Brasil, o padrão de atendimento e de serviço é o mesmo; são instituições que mostram que o Estado brasileiro tem capacidade de gerar organizações que funcionam. Assim deveria ser também com as escolas. Professores e professoras bem remunerados(as), com meios de trabalho e ambiente adequados. Livros, currículo, computadores, tudo para ajudar a ter o mesmo padrão e a formar as crianças oferecendo-lhes a mesma chance. Os(as) professores(as) devem ter seus salários pagos pelo governo federal, seguindo um plano nacional de educação de qualidade e a escola gerenciada pela prefeitura e pela comunidade, aberta à participação dos pais, das mães e de toda a comunidade."


(Plenário do Senado Federal, 10/8/2007)

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