Se o pinguim da geladeira falasse
Sílvio Ribas Lá estava ele, imponente, sobre a geladeira branca Electrolux de Arminda. O pequeno pinguim de porcelana parecia vivo, observando e ouvindo tudo. De seu trono gelado na cozinha, ele era espectador privilegiado do povo que circulava na velha pensão no centro de Curvelo (MG), uma casa repleta de histórias e afetos. Na sala de TV, o tique-taque do velho relógio de parede parecia dar ritmo aos dias, como um coração marcando o tempo. Do canto da cozinha, o pinguim também ouvia as conversas arrastadas de minhas tias-avós, cheias de lembranças de antigamente, que mais pareciam contos tirados de livros consagrados. Aquele pássaro elegante que não sabia voar, tachado de símbolo brega, queria mesmo era acompanhar o terço das hóspedes, rezado nos quartos. Essas vozes devotadas ainda ecoam na minha memória como cânticos. Mas, por cima, o simpático artigo de decoração sondava o vaivém no generoso lar de Arminda. Na cozinha, o pinguim era testemunha das delícias que se aqueciam no ...