Pegadas na areia
Sílvio Ribas
Um desses breves escritos que jamais deixou de ressoar na minha cabeça foi o poema “Pegadas na Areia”, de autor desconhecido. Em marcador de livros, santinhos distribuídos na paróquia e quadros de aviso, a história conta o sonho de alguém conversando com Jesus no Céu sobre a sua trajetória na vida terrena, ilustrada por uma caminhada dos dois por uma praia. Aquelas linhas cativaram muita gente.
O desfecho inusitado da narrativa, consagrando a misericórdia divina com uma belíssima metáfora, me pareceu sintetizar a fé cristã. Nos momentos mais difíceis, quando só havia um par de pegadas na areia, não houve abandono. Pelo contrário. O cuidado do Salvador conosco é ilimitado, ao ponto de nos carregar nos braços. Foi isso o que evidenciou para mim aquele textinho recorrente nos corredores, salas e pátios da minha escola Interventor Alcides Lins.
Nos sussurros das orações das crianças antes de dormir, nas velas que minhas tias-avós acendiam nas novenas, nos sermões dos sacerdotes e até no salmo colado atrás da porta de frente de nossa casa, a esperança fortalecia, mesmo nas horas de tribulação. Sabíamos que havia alguém maior do que nós a nos carregar. Pena que hoje, quando o tempo e as pessoas andam apressadas, pegadas na praia são facilmente ignoradas. Para completar a minha nostalgia só falta dar play para um sucesso do Padre Zezinho.
Lido e relido ao longo dos anos, “Pegadas” ainda me ensina que as marcas invisíveis para os olhos carnais são explícitas ao espírito, nos guiando mesmo sem que as percebamos. “Eu te Amo e jamais te deixaria nas horas de tua prova e de teu sofrimento”, avisa Jesus no poema facilmente encontrado na internet. Amém.
Comentários