Epopeia iniciada no lombo do carneiro
Quando eu contava para os amigos que meu avô paterno, Walmiro de Sousa (1913-1985), construiu um império rural no bravio sertão mineiro do século passado a partir do nada, percebia o interesse e a admiração nos olhares deles. Porém, a surpresa era inevitável ao ouvir na sequência que esse empreendedor nato começou seu capital ainda menino, vendendo ovos pelas roças montado em um... carneiro. A reação inicial variava entre o cômico e o curioso, mas, ao refletirem sobre a história, todos concordavam que ela tinha a vocação de um enredo digno de Hollywood. Na fase adulta, sua imagem lembra até a do maior cowboy do cinema, o ator americano John Wayne.
Minha avó paterna, Maria da Conceição Moreira de Sousa
(1913-1988), mais conhecida como Dona Sinhá, teve o cuidado
de escrever uma biografia abreviada dele logo após sua morte. Temendo que a
história de vida de 75 anos de seu amado se perdesse com o tempo, a viúva idosa me
entregou seu caderno com a missão de transcrever e editar o relato para as
gerações atuais e futuras da nossa família, além dos amigos. Como neto de Dona
Sinhá e jornalista, tive a honra de ser o guardião desse manuscrito,
publicando-o em 2019 como um livro de bolso, pela editora Clube de Autores.
Eis o resumo dessa incrível trajetória: Nascido em 10 de
agosto de 1913, em Conselheiro Mata (MG), Walmiro destacou-se desde jovem por
sua visão empreendedora. Filho de Beraldo, funcionário da ferrovia, e Violeta,
dona de casa religiosa, ele iniciou sua vida profissional em um armazém,
mas logo passou a negociar por conta própria, comprando e vendendo bens pela
região. Com apenas 19 anos, adquiriu a sua primeira terra e, em 1934, casou-se
com Maria da Conceição, a Dona Sinhá.
O casal teve 10 filhos enquanto Walmiro expandia suas atividades, que incluíam propriedades agrícolas, criação de gado e até uma
fábrica de rapadura e cachaça. Mesmo diante de desafios severos, como a doença de Dona
Sinhá, que a deixou com movimentos limitados, a família prosperou. Mudaram-se na terceira idade para Sete Lagoas (MG) para a educação
dos filhos, e Walmiro manteve seu compromisso com os seus e os negócios até
retornar à sua mitológica fazenda Gameleira, em Monjolos (MG).
Homem devoto, Walmiro reformou a capela de Conselheiro Mata
e expressou seu desejo de ser enterrado lá. Após sua morte em 11 de outubro de
1985, após um infarto fulminante em Curvelo (MG), foi sepultado na cidade natal que tanto amava, deixando
um legado de dedicação e amor à família e à comunidade. Dona Sinhá permaneceu
na fazenda, sempre lembrando do marido e agradecendo a Deus pela vida que
construíram juntos. Depois, ela enfrentou em seus últimos anos os efeitos de um grave acidente
vascular cerebral (AVC), falecendo em 30 de novembro de 1988, em Sete Lagoas.
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