Orgulho geodésico

 

Sílvio Ribas

 O mapa do tesouro da mineiridade marca um X no solo de Curvelo (MG). Por décadas, os filhos e amigos da cidade souberam para onde apontar quando falavam do “centro geodésico” do estado.

Ao lado direito da entrada da Igreja da Imaculada Conceição, no bairro Tibira, havia um bloco de concreto que indicava um especial ponto de Minas Gerais estudado por geógrafos, agrimensores e cartógrafos.

Aquele dado técnico era também patrimônio dos curvelanos, cultivado com fervor. A marca simples, que poucos olhos de fora notavam, estava bem guardada na memória daquela gente e a enchia de orgulho.

O ponto de convergência do grande território mineiro virou reportagem na TV e publicidade da Prefeitura e do comércio local. Poética e oficialmente, o município adotou a alcunha de coração do estado.

O tempo passou e o marco provisório deu lugar a um monumento mais elaborado, de traço moderno, dividido com o jardim lateral da igreja. Com arco e setas, o símbolo novo visava ensejar novo ponto turístico.

Além do forró, do Santuário de São Geraldo, do zebu e da hospitalidade, o centro geodésico virou peça-chave na gestão visionária do prefeito Paulo Dayrell, nos anos 1980. Ele quis enaltecer o diferencial exclusivo.

O marco acabou indo para outro lugar de mais visibilidade. Ele se mudou para perto, na rodoviária nova, cuja caixa d'água etilizada exibe o mapa do estado e o título "Centro Geográfico de Minas Gerais".

Curvelo, Corinto e Morro da Garça ainda disputam o título de centro geográfico de Minas com base em diferentes interpretações de dados históricos, literários e geográficos. Cada uma com seus argumentos.

Curvelo destaca a sua localização estratégica na região central e sua proximidade com importantes vias de acesso; Corinto se apoia em análises geográficas; e Morro da Garça recorre a cálculos históricos.

Mesmo antes de blocos de concreto e placas oficiais, o que pairava no ar — como paira ainda hoje — era a certeza do povo de Curvelo de um pertencimento especial. Tudo em volta é Minas. Tudo dentro, também.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise antevista

Guerra fiscal

Baú genealógico