Vá ler o mundo!

 

Há por aí bem mais do que apenas palavras para serem lidas. Proponho que leiamos tudo. Cada ondulação de asfalto, cada sujeirinha na vidraça, cada descascado de tinta do muro, cada dobra de pano, cada sulco e pinta no rosto, cada respingo de lama na lataria do carro, cada rastro na poeira. Este é o radar ligado de gênios como o poeta Manuel de Barros, que se maravilhava com o banal, o micro, o ordinário e o lúdico.

Ele tem razão. Tudo na vida é inspirador. Até mesmo o deserto, com as suas inconstantes dunas. Atenção difusa, aquela que nos ensinam os manuais de trânsito, é mesmo importante para não deixarem passar batidos detalhes reveladores ou meramente encantadores. O mundo está aí para ser lido. E não para ser compreendido.

Cada objeto, paisagem ou ser humano tem a sua história própria e carrega uma mensagem a ser decifrada. Como páginas de um livro, cada canto do mundo nos convida a ler seus segredos e a revelar suas nuances. As folhas caídas no outono, por exemplo, nos contam sobre a passagem do tempo e o evoluir do ciclo da vida. Os traços do sol no céu azul, por seu turno, se transformam em obras de arte fugazes. E o que dizer das rugas no rosto de uma pessoa? Elas transmitem experiências e sabedoria adquiridas ao longo da trajetória vital.

Mas essa leitura que estou a propor requer sensibilidade e mente aberta para sorver os detalhes. Se não prestarmos atenção, podemos perder as mensagens que esses sinais contêm. Da mesma forma que um livro mal lido pode colocar ideias importantes à margem, uma vida mal lida pode redundar em perda sofrida de oportunidades de aprendizado, de sensações únicas e de uma conexão mais ampla com o mundo.

Assim como um pintor examina a textura de uma tela antes de colocar a primeira pincelada, devemos examinar o mundo ao nosso redor antes de tirar conclusões apressadas. Uma rachadura na parede pode ser vista naturalmente como um sinal de negligência ou de simples desgaste estrutural, mas também pode ser um símbolo da resistência do edifício todo ao longo do tempo de sua edificação.

Devemos, pois, estar sempre abertos a ler o mundo ao nosso redor, a cada momento. Como um livro infinito, o mundo nunca para de nos oferecer lições e histórias fascinantes. Basta ter olhos bem atentos e uma mente mais disposta a decifrar suas mensagens para ser o leitor que merecemos.

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