Os espadachins flamboyant


Quando era criança em Curvelo nos anos 1970 e 1980, eu e os meus amigos nos inspirávamos nos filmes de “capa e espada” para viver aventuras épicas nas praças. E flamboyants eram aliadas dessas brincadeiras, fornecendo sombra contra o sol ardente e “armas” na forma de vagens secas.

Sob a proteção dessas árvores, encarnávamos personagens como Zorro, Três Mosqueteiros e piratas, transformando a cidade em palco para nossa animada imaginação. Elas embelezavam a rotina de todos os habitantes e foram responsáveis por criar momentos inesquecíveis da minha infância.

En garde! Touché! Repetíamos essas expressões em francês enquanto brincávamos de esgrima, imitando as cenas que víamos na Sessão da Tarde. Esse teatrinho divertido só foi possível graças à floração de flamboyants, que além de pintarem belos cenários, traziam baionetas de sementes.

Na praça da Matriz, a árvore era o cisne entre patos (fícus), enquanto no entorno da Basílica reinava com muitas presenças, hoje centenárias. Ao lado do Alcides Lins, a grande copa vermelha enfeitava a frente da escola e ainda dava munição a intrépidos espadachins de calças curtas na saída.

Ainda me lembro com saudade daqueles tempos no interior, onde natureza e liberdade davam especial colorido à meninice. As espadinhas não eram lâminas afiadas, mas um passaporte para outros mundos. Nos tornávamos com elas valentes guerreiros, a defender o Reino do Corvello.

O som de lanças curvas se batendo era música para meus ouvidos. As folhas das árvores sussurravam ao vento, completando a atmosfera das nossas batalhas. Como é bela a simplicidade. Ainda me vejo naquela época em que tudo era mágico, com frutos-espada em punho rumo a duelos simulados.

Aquela farra só acabava no pôr do sol, que dava ao céu um tom flamejante. Flamejante, aliás, é o significado em francês de flamboyant, que batizou a árvore de origem africana, devido às suas flores vermelhas, alaranjadas e amarelas. Apesar de ser popular por sombrear, tem raízes fortes e fundas.

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