A verdade está no vinho!

Artigos de duas revistas que peguei na sala de embarque e no avião rumo a Salvador me deram uma conexão entre saúde e amizades. O primeiro texto falava de pesquisa médica no Japão sobre o fator positivo do consumo moderado de vinho para a cognição na velhice. Concluíram que a bebida estimulava neurônios dos prateados à medida que fermentava boa prosa.


Em tom distinto, pessimista, a reportagem da outra publicação expunha a explosão da fobia social no mundo, detonada após a pandemia da Covid-19. Adolescentes e adultos jovens formam a maioria dos adeptos de um crescente auto-isolamento, com muitos simplesmente passando a desgostar de marcar encontros com pessoas da vida real, incluindo o melhor amigo.

De absoluto rigor científico, ambas as investigações acabaram convergindo para sacadas típicas do senso comum. Não é que encontros com drinques e risadas resgatam memórias? Parece que o vício de telas está deixando menos atraentes para a garotada as horas de peladas no campinho e de paquera na pracinha. As duas descobertas só confirmam impressões leigas.

Se melhora a qualidade de vida da terceira idade juntando testemunhas de seu tempo, preenchendo lapsos, recriando recordações e evocando o que foi guardado com afeto na mente, a juventude embota sensações quando se enclausura no quarto e na bolha digital. Junto tais acepções no provérbio “In vino veritas”, frase que em latim significa “no vinho está a verdade”.

A “liberdade” provocada pelo álcool é a desinibição para revelar a verdade escondida dentro de si. Mas não é preciso estar bêbado como Nezinho do Jegue para dizer em público que o envelhecimento populacional está se tornando o maior desafio global, tanto quanto o climático. O Japão deu o sinal vermelho, e a China, o amarelo. O Brasil não está longe deste quadro.

Também não é necessário beber além do razoável para deplorar certo olhar alheio e certa empáfia das gerações novas, que criam casulos para conter a energia do desejo máximo por convivência. Gerações maduras precisam de integração, nem que seja ensejada na fila do banco. Se uma parcela quer, todos precisam do velho e bom contato humano. Que a verdade vença! Vinhos envelhecidos são bons, mas já foram jovens.

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