Sorte, azar ou técnica?

No anoitecer de recente domingo, no Shopping SP Market, São Paulo, topei com uma cena que ilustra a percepção que o público tem sobre sucessos da vida. Em torno de gigante máquina de pegar gigantes bichinhos de pelúcia, uma pequena multidão ovacionava o jogador que se mostrava obstinado e adestrado na missão. Após cinco tentativas bem endereçadas, a garra içou o troféu fofo, erguido em seguida pela namorada e torcedora-mor dele.

Naquele momento em que me senti como protagonista de Toy Story diante do foguete do Pizza Planet ouvi com atenção os comentários e reações dos espectadores. O consenso ali era de que o feito glorioso de pescar a boneca estofada resultara de uma mistura de estratégia com sorte. As falhas, por sua vez, refletiam instantes preparatórios da conquista com pitadinhas de infortúnio. Ao final, a audácia do herói de botão e joystick mereceu fortuna.

Essa brincadeira, garantem os donos do equipamento de entretenimento, é desafiante e não um caça-níqueis. Isso porque ela teria seus segredos e exigiria dos apostadores habilidades e método. Após a pessoa inserir o valor correspondente ao total desejado de jogadas, se iniciaria efetivo controle no rumo ao item escolhido. Captado, o prêmio é levado à boca de liberação e tirado. A teoria é simples, mas a prática é difícil, pedindo então pela sorte.

A máquina ajuda a quem faz série de investidas, elevando gradualmente a pressão para puxar para cima os objetos? Alvos afastados de outros e do vidro são presas mais susceptíveis? Dar um intervalo de segundos entre o posicionar do disparo e o acionamento da descida do cabo seria também uma dessas dicas valiosas? Pode até ser. Mas o acaso está de caso com o vencedor. Na vida cotidiana esse viés de sortilégio traça destinos. Vejamos.

O amor da vida pode surgir de esbarro acidental. Podemos ganhar a Mega investindo em fatores que favorecem mais probabilidades de acerto, como bolões e números extras por bilhete. Contudo, pobre fica milionário com uma só aposta simples. A chance de vender ideia ao dono da empresa onde trabalha pode aparecer no elevador. Mas é preciso ter receptividade dele e estar pronto. Como dizia Guimarães Rosa, a vida só quer a nossa coragem.

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