O legado da Abril nos quadrinhos

Sílvio Ribas

Cebolinha, Mickey Mouse, Pato Donald, Batman, Morcego Verde e uma longa lista de personagens famosos das histórias em quadrinhos (HQs) chegaram aos corações dos brasileiros por intermédio da Abril. Por sete décadas, a editora liderou o mercado de gibis do país, responsável por publicar o material das gigantes franquias americanas Disney, DC e Marvel, além do universo criado por Maurício de Sousa. Essa história, repleta de ousadia e fatos polêmicos, está, finalmente, muito bem contada em livro.

O recém-lançado “Império dos Gibis: A Incrível História dos Quadrinhos da Editora Abril” (Heroica, 2020), dos jornalistas Manoel de Souza e Maurício Muniz, levou 18 meses de pesquisas, com exame de mais de 300 periódicos e documentos, dezenas de horas de entrevistas com 46 figuras-chave na história da Abril e a leitura de mais de 2 mil HQs lançadas pela editora desde 1950. O resultado são 544 páginas com valioso registro para estudiosos e fãs e detalhado painel das etapas do mercado das “revistinhas” no Brasil.

A obra revela bastidores da saga de Victor Civita iniciada na Itália, seguindo por Estados Unidos e Argentina até chegar ao Brasil, onde provocou uma revolução cultural. A trajetória de 1950 a 2018 reuniu episódios nobres e controversos, mas foi marcada, sobretudo, por títulos que fizeram a alegria de gerações de diferentes idades. Ilustrado com capas históricas de revistas em quadrinhos da Abril, o livro presenteia aficionados com bons flashbacks de lançamentos marcantes, como O Cavaleiro das Trevas (1987).

Para uma empresa que se orgulha de ter começado com um pato (a edição número um de Donald, da Disney) e que abriu espaço para gama inédita de profissionais das belas artes, do jornalismo e da indústria gráfica no país, uma compilação do tipo de “O Império dos Gibis” não é só reconhecimento da sua importância. Ele também preenche lacunas da memória de nosso combalido mercado editorial, com enredos nacionais e estrangeiros, completando o trabalho de Gonçalo Júnior, autor de livros essenciais como A Guerra dos Gibis e, também, colaborador central da mais nova boa nova.

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