Desastre econômico


Por Sílvio Ribas


Certa vez, o grande líder Eduardo Campos vaticinou o desastre que vivemos hoje na economia, resultado de uma coleção de irresponsabilidades e de equívocos praticados pela presidente Dilma Rousseff.

Em julho de 2014, o ex-governador de Pernambuco previu que a candidata à reeleição seria “o primeiro presidente a entregar o país pior do que recebeu”.

Foi exatamente o que ocorreu. O Brasil está quebrado, levando aflição a milhões de famílias. Estamos quase na metade do segundo ano seguido de uma aguda retração econômica, que castiga a todos.

O FMI estima contração de 3,8% este ano de nossa economia, repetindo os 3,8% de 2015. Segundo o Serviço Central de Proteção ao Crédito, os pedidos de falência cresceram 31,6% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2015. A produção de veículos já despencou 27,8%.

Este é o legado deixado pelo pior governo da história do Brasil, um filme de horror marcado pelo recuo dos investimentos, pela perda do selo de bom pagador conferido ao país e pelos prejuízos a governos, empresas e cidadãos. A devastação percebida no Brasil em poucos anos arrasou ainda as maiores estatais, Petrobras à frente, vítimas da má gestão e da roubalheira.

Mas a tragédia da gestão da presidente está mesmo escancarada no desemprego, que atingiu a terrível marca de 11,1 milhões de trabalhadores. Essa crise herdada da gestão Dilma simplesmente zerou todos os ganhos dos anos recentes.

Chefes de família estão perdendo a esperança de viverem de forma digna. Milhares de empresas estão fechando. A economia afunda. Basta lembrar que a inadimplência já alcança 60 milhões ou 40% da população adulta no país. A renda per capita do brasileiro recuou de US$ 16,2 mil, em 2014, para US$ 15,7 mil, em 2015, distanciando o país dos demais países considerados emergentes.

O valor equivale a 90% do rendimento médio dos 24 países em desenvolvimento. É o menor patamar registrado desde o início da série histórica do FMI, em 1980. O caos também está descrito pela acelerada deterioração das contas públicas. Só de janeiro a março, o rombo foi de R$ 18,2 bilhões, quase 1% do PIB. Com isso, a dívida pública federal alcançou R$ 2,88 trilhões no primeiro trimestre.

A dívida bruta saiu de 54% do PIB em 2012 para 67% em 2015, com perspectiva de alcançar 84% antes de 2018. Com esse forte endividamento, as despesas com juros em 2015 atingiram R$ 500 bilhões – isso o equivalente a 18 vezes o gasto anual do programa Bolsa Família.

Esses números nada triviais impactaram diretamente a vida das pessoas. Hoje, a sociedade e, sobretudo, os mais pobres são os mais penalizados pelo desequilíbrio das contas públicas e por toda desorganização econômica e social que ela provocou.

O mau uso do dinheiro público é especialmente cruel com os mais pobres, pelo simples fato de que são os principais beneficiários de serviços públicos. Essa desorganização econômica já levou o Brasil a fechar quase 24 mil leitos de internação do SUS em cinco anos, o equivalente a 13 leitos por dia, conforme informa o Conselho Federal de Medicina.

Isso tudo quando dezenas de milhares de brasileiros estão migrando dos planos de saúde para o SUS. A crescente pressão de demanda sobre serviços decadentes só indica mais sofrimento dos cidadãos e menos oferta de algo essencial a todos.

É bom lembrar também os cortes feitos em 2015 nos programas sociais, reflexo da irresponsabilidade fiscal: Pronatec, R$ 1,6 bilhão, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, R$ 1 bilhão, Educação Básica, R$ 1,5 bilhão, Ensino Profissional, 800 milhões, e por aí vai.

O saldo amargo que a presidente afastada nos legou explica bem o grau de urgência para o Brasil efetivar nova trajetória. A acentuada destruição da riqueza foi perpetrada a partir de um conjunto de medidas intervencionistas derrotadas pela prática em outros tempos e inspiradas pela chamada Nova Matriz Econômica.

Ficou claro que a política anticíclica, implantada para enfrentar a crise externa na década passada, foi muito além da conta. A gastança e o intervencionismo se mostraram um álibi para justificar aquilo que se entendia como certo.

Mesmo após a saída de cena do governo Dilma, a crise da vida real que produziu continuará afetando negativamente nos próximos meses, provocando queda da qualidade de vida da população. A recessão mais longa e mais profunda da história brasileira é uma herança imperdoável, um castigo para gerações.

SHUTDOWN

Para completar, a crise fiscal da União se alimenta da retração econômica e se estende para os estados e municípios, engordando a dívida pública e colocando a solvência do setor público em xeque. Objetivamente, o Executivo já está diante da ameaça de promover corte profundo nas despesas para cumprir a meta fiscal. Sem aprovar uma revisão nos próximos dias, o país cairá no chamado shutdown – a paralisação dos serviços públicos e de pagamentos de fornecedores e benefícios sociais, como o Bolsa Família.

O rombo está estimado pelo governo agora entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões, bem acima da revisão apresentada pelo governo Dilma, de R$ 96,6 bilhões. Mas esse inventário pode mais que dobrar se encararmos outros passivos, como uma moratória no pagamento da dívida dos estados e municípios e aportes do Tesouro na Eletrobrás e Petrobras.

Durante todos esses anos, a política econômica foi pautada pelo improviso e pela demagogia. Portanto, não chegamos a essa situação caótica à toa. Por isso mesmo, não há dúvidas de que o país precisará de um grande esforço coletivo para corrigir as distorções acumuladas, superar os rombos do legado de Dilma e, por fim, retomar o caminho do progresso e da justiça social.

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